segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aquecimento Global: Ciência, Política e Controvérsia. Texto revisto e acrescentado, ao qual acresce uma pergunta: terá havido aquecimento global em Marte causado por seres vivos marcianos?

Imagem picada aqui.
 

A política e a (nova) economia das alterações climáticas há bastante tempo que nos vem afastando do essencial, que é pôr a Ciência, com maiúscula, ao serviço da sociedade. Se aceitarmos como verdade que o "aquecimento global", ou melhor, o seu suposto agravamento recente, é devido a nós, humanos, por causa das nossas emissões de Carbono de origem fóssil, vemos que isso é bom para todos os intervenientes, à excepção de cada um de nós, individualmente, enquanto consumidores de produtos energéticos de origem fóssil e da miríade dos produtos derivados do petróleo. É isso que torna desde logo suspeito o enfoque actual na "luta contra o aquecimento global". Os governos ganham com a luta, pois podem cobrar mais taxas e impostos aos seus cidadãos; as companhias petrolíferas também, pois, cartelizadas como é sua regra, beneficiam do "clima" propício ao agravamento dos preços do petróleo e do gás; os produtores de automóveis ganham, pois continuam, como sempre, a fabricar e a vender máquinas a diesel e gasolina, ao mesmo tempo que recebem apoios públicos para o desenvolvimento de soluções de transporte "mais sustentáveis" (como se elas não existissem há décadas!); os grandes conglomerados financeiros e económicos ganham, pois os enormes custos que a luta envolve deixam os Estados nacionais mais fracos acelerando, como é desejo das corporações, o seu controlo totalitário por parte destas. Enquanto a luta se vai travando, instituições como o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) ou a Agência Europeia do Ambiente (EEA) vão, ingenuamente (?), produzindo relatórios e inventários de emissões nacionais de gases com efeito de estufa (GEE), como se o Carbono ainda tivesse alguma "nacionalidade" depois do proclamado "fim da história" e de mais de duas décadas de desregulamentação e liberalização dos mercados mundiais, promovidas pelas suseranias supranacionais da Organização Mundial do Comércio (WTO), do Banco Mundial (WB), do Fundo Monetário Internacional (IMF) e da União Europeia. Não se pode continuar a passar ao lado de uma realidade cada vez mais flagrante: entre os principais emissores (ou indutores de emissões) mundiais de Carbono de origem fóssil encontram-se não somente Estados nacionais, mas crescentemente corporações e conglomerados económicos globais que escapam "milagrosamente" a qualquer inventário de emissões! O IPCC desculpar-se-á com uma qualquer dificuldade técnica ou "metodológica", relacionada por exemplo com as dinâmicas empresariais modernas ou com a disponibilidade de dados. Irrelevâncias para uma organização que, quando quis, conseguiu sempre ultrapassar os obstáculos "técnicos" existentes à quantificação das emissões. Mas, se esta evidência é já, no mínimo, flagrante (veja-se, entre as 175 maiores entidades económicas mundiais em 2011, quantas são Estados nacionais e quantas são corporações ou conglomerados económicos), para quê a persistência em quantificar as emissões "nacionais" de Carbono fóssil senão para "culpabilizar" e tornar (ainda mais) vulneráveis os respectivos Estados?

Os governos nacionais, incapazes de fazerem frente a este ataque, seguem o rumo traçado pelas corporações globais. À medida que a economia se descarboniza, reduz-se o espaço de acção política dos governos para benefício da sociedade, e aumenta a sua dependência da “boa vontade” das corporações para o cumprimento dos seus deveres constitucionais. Inevitável se vai tornando aos poucos tudo aquilo que não podem, ou não querem, enfrentar. Os governos nacionais do mundo Ocidental (a começar pelo dos EUA), e provavelmente cada vez mais os governos do resto do mundo, estão hoje rendidos à arbitrariedade e aos interesses das grandes corporações globais. Contribuiu muito para isso no Ocidente o terem deixado corromper-se, aliciados por tentações como a de lutarem contra inimigos hipotéticos, ou pelo menos fortemente exagerados e distorcidos, amplamente difundidos pelos media de massas modernos. Media criadores de ilusões, para quem a “notícia” é um bumerangue (veja-se o curioso logótipo da empresa de media Controlinveste) que, uma vez lançado com a ajuda das agências de informação e comunicação, traz de volta lucro certo para as corporações. A notícia vende – conferem os analistas. Mas a ilusão criada no que concerne à luta dos governos (corrompidos) contra o "aquecimento global" desfaz-se rapidamente perante a seguinte questão: quanto valem anualmente as taxas ecológicas que recaem directamente sobre os consumidores nacionais de produtos petrolíferos (famílias e pequenas e médias empresas), e quanto valem as licenças, taxas e compensações pagas aos Estados nacionais pelas corporações que exploram e comerceiam sob sua licença os recursos energéticos de origem fóssil? Seria lógico que tais parcelas fossem idênticas, pois tão responsáveis pelo aquecimento global de origem antrópica são aqueles que consomem os combustíveis fósseis como as corporações que os exploram e colocam à venda com licença dos Estados. Mas a ilusão é a seguinte: os governos nacionais (e locais), tão “empenhados” que estão na luta descarbonizadora, fazem o papel de vilões, o que aos poucos os descredibiliza, pois cobram a uns (mais) e às outras (menos), como de resto acontece com produtos como o tabaco, as drogas "legais" e as bebidas alcoólicas. Lastimando os malefícios que causam ao clima os GEE, ou à saúde e à segurança rodoviária o fumo do tabaco e o vinho, os governos nacionais são os principais dependentes e beneficiários de tais vícios, e não parece! Eis portanto a ilusão. Corrompidos, os governos nacionais e as corporações globais ganham assim ambos na exacta proporção em que os Estados nacionais perdem! Como pode um governo empenhar-se na luta contra o aquecimento global quando ao mesmo tempo aprova um plano nacional de produção de petróleo e gás? E porque ficam as ONGAs nacionais em silêncio perante tal atentado carbónico? Ou será que tudo isso não passa de um fait-diver, uma forma de o governo dar avais a projectos muito caros e arriscados de prospecção de petróleo a grandes profundidades? Outro exemplo: porque razão um governo nacional, como o dos EUA, empurra a exploração petrolífera, reduzindo-lhe os impostos, para zonas de offshore onde os riscos ambientais de um acidente são incomparavelmente maiores, o que poderá em última instância ter levado ao maior desastre ambiental da história dos EUA? O que estou fundamentalmente a dizer é o seguinte: um governo que luta contra o aquecimento global não é necessariamente um governo bom ou amigo da sociedade, do Estado nacional ou do próprio ambiente. Pode muito bem ser o contrário disso tudo! Eis o erro em que poderão incorrer, e certamente incorrem, muitos ambientalistas incautos.

Ganham também com a luta descarbonizadora os (geralmente maus) cientistas postos ao serviço da "nova Cruzada descarbonizadora", pois vêem os seus centros e projectos de investigação generosamente financiados por fundos públicos e fundações privadas geridas pelas corporações globais. Isso aconteceu em Portugal, por exemplo, com os projectos SIAM I e II, que teriam merecido um melhor escrutínio científico, pois que de facto quase nenhum houve, o que também demonstra a pequenez científica de uma nação. No livro que brevemente penso publicar debruço-me em pormenor sobre alguns erros fundamentais dos relatórios e cenários do SIAM, amplamente divulgados em Portugal, e publicados por uma editora de "largo espectro de audiência", a Gradiva. Para além de toda a acumulação de "provas científicas" de que o aquecimento global antrópico é causa de uma infinidade de males que actualmente flagelama humanidade (guerras, tempestades, terramotos, doenças, etc.) espera-se agora, com alguma indiferença pessoal, entenda-se, pois sei que a estupidez humana é infinita, que a "revelação histórica" do Curiosoty em Marte, mantida em segredo pela NASA, a divulgar provavelmente durante a reunião anual da União Americana de Geofísica, a decorrer na Califórnia já no início do próximo mês de Dezembro de 2012, não seja uma espécie de prova derradeira: a de que houve vida em Marte, decerto "vida inteligente", que se terá extinguido devido ao aquecimento global causado nesse planeta terrestre. Tudo é possível num tempo onde domina a força da ignorância de que falava Orwell. Se tal vier a acontecer, recomendo a Ciência com maiúscula, neste caso tratada por especialistas como a neerlandesa Ewine van Dishoeck, que refere por exemplo: «Organic compounds are ubiquitous in space: they are found in diffuse clouds, in the envelopes of evolved stars, in dense star-forming regions, in protoplanetary disks, in comets, on the surfaces of minor planets, and in meteorites and interplanetary dust particles.». Ou seja: existem moléculas contendo Carbono em todo o Universo, sem que isso signifique necessariamente que exista, ou tenha existido alguma vez em algum ponto desse Universo, vida tal como a conhecemos. A tentação é grande, mas espero (sempre esperei, não obstante infrutiferamente) que a verdade humana prevaleça já que a outra, com V maiúsculo, somente a Deus pertence.

Finalmente - prosseguindo a nossa elencagem de ganhadores - ganham os apostadores e especuladores financeiros, gente de casino que tem mais um "produto financeiro" para negociar nos chamados "mercados do carbono" e também, como já parece irreversível, nos futuros "mercados de serviços dos ecossistemas" criados em nome da "protecção da biodiversidade" (ou seja, quando os Estados nacionais colocaram legalmente grande parte dos seus territórios sob um qualquer estatuto de protecção ambiental; quando as verbas escasseiam para assegurar a manutenção e gestão de tão extensas áreas naturais; e quando os conglomerados económicos e financeiros, apostados no decrescimento económico, pois bem sabem como os recursos naturais são importantes mas limitados, temem ver os seus lucros reduzidos por falta de poder de compra das pessoas: aí surge a oportunidade de prolongar por mais algum tempo o "business as usual", convertendo os bens ambientais em commodities negociáveis e em breve facturáveis aos cidadãos (que ainda restarem), após os respectivos governos nacionais terem cedido à "inevitabilidade" de entregar aos cuidados das corporações as extensas (e muito valiosas) parcelas dos seus territórios, actualmente correspondentes às áreas e zonas protegidas (e.g. parques naturais, zonas especiais de protecção, sítios da Rede Natura). É o chamado capitalismo natural, defendido por teóricos como Herman Daly e Robert Costanza, expoentes da revigorada economia ecológica. Lamento que muitos biólogos e cientistas afins não percebam esta ameaça, surgida a pretexto da razoável ideia da necessidade de promover uma adequada "valorização da biodiversidade". Não me restam dúvidas: as piores armadilhas são aquelas que nós próprios, por ignorância, tecemos. Mas finalizando: todos ganham com a luta contra o "aquecimento global" de origem antrópica, à excepção do Estado no seu sentido original ou seja, à excepção do... Zé que tudo vai ter de pagar, de alguma forma...

Além disso, mas não menos importante, passa a estar inteiramente sobre os ombros do "Zé" a culpa de todas as calamidades "naturais" presentes e futuras: cheias, terramotos, maremotos, pragas, incêndios, doenças, epidemias e pandemias - como aliás já escrevi há mais de dois anos num texto publicado no Jornal das Caldas (a imprensa nacional há muito tempo que não publica textos inconvenientes para as corporações que a sustentam). Nada mais conveniente numa altura em que os governos nacionais se vêem confrontados com a "inevitabilidade": dos cortes na despesa pública com a saúde, a educação e a segurança dos cidadãos, entre outras. Inclusive as corporações seguradoras devem ganhar com tudo isto, pois a verdade é que estão sempre fadadas a ganhar... e a pagar o mínimo quando o azar acontece (talvez passem a colocar nos contratos uma cláusula estabelecendo que, em dias de "alerta laranja", ou "violeta", ou de qualquer outra cor denotando as inclemências do estado do tempo, não se responsabilizam pelos danos que houver...).

É isto que é perigosamente suspeito. E é a isto que se juntam as muitas dúvidas científicas sobre a teoria dominante do aquecimento global de origem antrópica, por força das emissões de CO2 e outros GEE. Há vozes de cientistas a favor e contra essa teoria que há anos esgrimem entre si os respectivos argumentos. Não entrarei nesse debate, pois em relação à sustentabilidade preocupam-me actualmente outras questões que acho bem mais importantes, e a minha idade já não permite que perca tempo com discussões que se prefiguram infindáveis e, portanto, inúteis. Se, como muitos reconhecem, o assunto do aquecimento global causado pelos humanos é político, então que político seja e que cada um pense como quiser. Parafraseando Keynes, a única certeza política que tenho é a de que, a prazo, estaremos todos mortos.

Optando pois por um agnosticismo saudável nesta questão, deixo-vos aqui alguns vídeos, dois deles legendados em português, que sintetizam as posições pró e contra a teoria de que o aquecimento global recente está a ser acelerado pela actividade humana (teoria que no Brasil, país muito mais atento a estas coisas do que Portugal, recebeu o nome de aquecimentismo). Como o mais frequente é as teorias científicas estarem de alguma forma erradas, isso significa que o melhor a fazer é continuar, afincada e honestamente, a estudar o assunto. Começando, claro está, pelas bases: a Física e a Química da Atmosfera, coisas nada fáceis ou simples, como aliás sublinho nas minhas aulas de Climatologia. Bom visionamento, e bom estudo!
 
Vídeos pró-aquecimentistas
 

Uma Verdade Inconveniente - Legendado PT from MDDVTM TV7 on Vimeo.




Vídeos anti-aquecimentistas






Aquecimentismo em Portugal

Em Portugal a discussão aquecimentista tem sido pouco divulgada, como é regra no país em relação às grandes discussões e debates que afectam o mundo contemporâneo. Uma excepção assinalável foi a RTP2 que, em mais do que um dos seus programas, trouxe o assunto a debate. Por exemplo no programa Sociedade Civil, em 2010, confrontaram-se as posições pró-aquecimentistas dos Professores Francisco Ferreira (da FTC/Universidade Nova de Lisboa) e Filipe Duarte Santos (da FC/Universidade de Lisboa) com as posições muito críticas do aquecimentismo defendidas pelo Professor Joaquim Delgado Domingos (do IST/ Universidade Técnica de Lisboa) e pelo Engº Rui Gonçalo Moura (falecido pouco tempo depois do programa). Vejam, estudem, pesquisem e depois formem a vossa opinião. Eu há muito que formei a minha.
 





 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Workshop sobre Avaliação e Controlo da Qualidade do Ar Interior, com o Prof. Gerard Bailey, dia 5 de Novembro, pelas 18 Horas

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Um workshop de formação avançada a não perder. Inscrições com a Dra. Susana Morgado até´6ª feira, dia 2 de Novembro!

domingo, 23 de setembro de 2012

A critique of degrowthism / Uma crítica do decrescimentismo

Pôr as ideias em ordem. Manter a racionalidade. Procurar entender o mundo em que vivemos através da "leitura" das "novas" tendências ideológicas. Evitar cair em simplismos redutores. Evitar cair em armadilhas. Entender porque motivo, a partir de certo momento, a dívida pública deixou de ser considerada um indicador chave de desenvolvimento sustentável, nomeadamente em Portugal. Tudo razões suficientes para estudar e escrever o artigo com o título acima que irei, se tudo correr bem, apresentar brevemente numa conferência internacional a ter lugar na cidade do Porto.
 
A Referência deste artigo, enviado na sua forma completa e aceite pelor referees internacionais designados pela Organização da Conferência, é a seguinte:
 
Rodrigues, V.J. (2012) - A critique of degrowthism. International Congress LIC'12, Porto, 8-10 Nov. Prog. available at: http://195.23.253.240/LIC2012/media/lic2012_agenda_dia9.pdf


A critique of degrowthism

Valdemar J. Rodrigues
CIDESTEC, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal

Extended Abstract

Degrowthism – the ideology of sustainable economic degrowth, as I argue hereafter – has received unusual attention in recent years, in particular after the financial earthquake initiated in 2008 in the USA. But it was just a few months before the political recognition of the financial crisis, in April 2008, that about 140 researchers in economics, environmental and social sciences from 30 countries met in Paris for the first international conference on “Economic Degrowth for Ecological Sustainability and Social Equity" [1]. The event would be reissued later in Barcelona (in 2010), Montreal and Venice (both in 2012), always organized by a meanwhile constituted association of academics and scholars, the Research & Degrowth [2], a group led by the economists Joan Martinez-Alier and Serge Latouche, two of the most widely known contemporary degrowthists.

With important roots on ecological economics, one could easily date the origins of degrowthism to the late sixties when the Club of Rome decided to commission the research that culminated in the famous book The Limits of Growth, of Donella Meadows and colleagues. But that is just a plausible possibility. As such, the very first interrogation relates the nature and the historical grounds of degrowthist ideas. After this done, I believe we are properly equipped to understand the step back verified in 1992 with the UN Conference on Environment and Development (UNCED), when the concept of sustainable development was included in the agenda of the major world governments and economic leaders.

An interesting aspect of degrowthism is its unbalanced reliance on GDP, a macroeconomic indicator which is not accepted as a valid measure of human well-being and of wealth of a society. The existence of a positive relation between real GDP (or GNP) and the use of materials, energy and land is clearly assumed by degrwthists when economic growth is at stake. But when addressing economic degrowth, they are much less affirmative about the necessity, or desirability, of a real GDP degrowth. This probably explains the apparent indifference of degrowthists to the economic recession that hit several national economies of the EU in recent years. And the absence of exaltation with, and celebration of the positive environmental effects of recession. In Portugal, for instance, such effects have been since 2008 quite significant, namely in terms of waste generation reduction and lowering of greenhouse gas emissions.

The second part of this research consisted in a critical examination of the ideas of Nicholas Georgescu-Roegen, one of the major references of sustainable degrowth theorists. As timely noticed by Andrew Dobson, ecologism differs substantially from environmentalism since the former is an ideology – providing us a world view (weltanschauung) through which we can interpret, spontaneously, our lifeworld and daily experiences – while the latter is not. Being ecologism, or at least some of its core values, a key element of the thought of degrowthists, then its worth looking critically at such crucial issues as the intrinsic value of nature and the value of human life. This part highlights sustainable degrowth as an ideology, based on the idea that conventional theories of economic growth (theories that seek the growth of production and consumption and therefore GDP growth), are hopelessly unsustainable. And explains why degrowthism is fundamentally incompatible with the hitherto dominant conceptions of sustainable development, since those conceptions assume GDP growth as a good, and thus a desirable thing.

The third and last part of this research points out some of its preliminary conclusions. Degrowthist ideology is not so uniform, or homogeneous, as one might have expected at a first glance. When a deeper analysis is undertaken, one can identify different categories of green thinkers for whom sustainable degrowth is, at least, a political option that is worth considering. Proponents of natural capitalism, deep ecologists, social ecologists and traditional pantheists are in the list, alongside with shallower environmentalists disillusioned with the prospects of sustainable development. Degrowthism is becoming increasingly attractive for a growing number of green thinkers, and this may not be a good thing, I finally argue. The ideology advocates that we must live with less consumption of material resources and energy, without this representing a downgrade in our quality of life. It means however a deep change in our culture, habits and lifestyles, agreed to be the only effective way to reduce human ecological footprint on the planet in an acceptable term. This may be true, but the point is how can we achieve such an ambitious goal peacefully, and in time to prevent the exhaustion of the planet's limited resources? Any reasonable answer to this can hardly avoid the reference to a set of constrictive policies (e.g. demographic control policies, deindustrialization policies, policies aimed at phasing out of industrial agriculture), that is, policies that for present societies imply a real GDP degrowth.

But if GDP degrowth is neither explicitly required nor celebrated by degrowthists, then we are left with an alternative which would be rather time consuming and hardly effective: the promotion of self-discipline through proper education. Furthermore, such alternative will interfere with individual beliefs and reasonable preferences, which is always somehow an illegitimate interference, no matter how contingent those beliefs and preferences might be [3]. This way we come to a seemingly dead end. On the one side, the very idea of forcing someone to live according to their supposed needs (and not according to their legitimate expectations) is something that has already been tested by many governments of marxist inspiration, and that had the results that we all know; and, on the other, try to persuade people to live according to such principle is something that pressuposes a slow process of social readjustment, for example, based on the fair valuation of individual merits and of genuine altruism, something that for many people is nothing but a mirage. It follows that degrowthism basically desires the disacceleration of economic activity through GDP degrowth, although it avoids to publicly assume so. The reason for this attitude seems obvious: it would be quite unwise to publicly celebrate things like the reduction of productive investment, rising unemployment or the disappearance of the most vulnerable strata of the population. Degrowthers are very unclear about the strategies they foresee to a sustainable and peaceful process of GDP degrowth.

Despite the possible anomalies, and dangers, of degrowthist ideology, the question is that since 1992 only one of the many possible interpretations of sustainable development was in fact put into practice by governments and international organizations, namely in the developed world. The concept of sustainable development is still far from being exhausted. One alternative conception of sustainable development that for some time I've been advocating proposes sustainability as a comprehensive moral ideal politically achievable through the simultaneous and cooperative development in societies of environmental care and protection; of democracy as authonomy and subsidiarity, and of justice as fairness and dignity for present and future generations. Rather than a scientific or technical demand imposed by some sort of aliens, sustainable development is regarded as a socially constructed process and, to that extent, sustainability emerges as a matter of excellence for social contract [4]. Degrowthism is not necessarily incompatible with such a contractualist sustainability approach. However, it seems reasonable to assume that social contractants – the people – can agree on the necessity of living with less but not with the necessity of living worse or living less. So this very fundamental constraint should always be kept in mind in any voluntary process of economic downturn.

The post-Rio dominant conception of sustainable development, in this regard, gave little or no attention to some crucial aspects of sustainability. As strange as it may now seem, the fact is that many EU countries, as was the case of Portugal, ignored public debt as a key indicator of sustainable development [5]. On the other hand, democracy or its quality; the social and economic dimensions of subsidiarity, or justice as fairness and human dignity in the light of the UN Universal Declaration of Human Rights; hardly ever such determinants of sustainable development deserved any kind of attention and systematic appraisal, as one can see in the myriad of sustainability reports produced by national states and supranational organizations in the last two decades. After the UNCED in 1992, the concept of sustainable development underwent a growing process of depoliticization and selective reductionism, a still ongoing process promoted by many Western countries and organizations, up to a point where it stands now, completely reduced to a techno-environmental dimension. I think therein lies the main problem of the concept of sustainable development, a concept that could well be rehabilitated for the benefit of people and their environment. Degrowthism may well represent, in this sense, a civilizational throwback whose consequences are still largely uncleared. The theory that fewer people means more peace, more justice in the distribution of opportunities and resources, and less likelihood of wars and conflicts, is a theory that has not been demonstrated and that can be completely wrong. It is up to social sciences more than to Physics the clarification of this urgent and paramount issue.

Key Words: Economic degrowth, sustainalbility, degrowthism, degrowthist ideology.
 
Notes:
[1] Conference proceedings available at http://events.it-sudparis.eu/degrowthconference/en/appel/Degrowth%20Conference%20-%20Proceedings.pdf
[2] http://degrowth.org/
[3] Rawls, J. (1997: 70 et seq.) – O liberalismo político. Lisboa: Editorial Presença.
[4] This alternative  conception of sustainable development is exposed in Rodrigues, V. (2009) – Desenvolvimento sustentável: uma introdução crítica. Lisboa: Principia.
[5] A detailed analysis of this anomaly will be available soon in  Rodrigues, V. (2012) – Sustainability, security and national defense (forthcoming book).

Agenda 21 Local (R)

Fez há pouco tempo dez anos que registei a Marca Nacional "Agenda 21 Local". Fi-lo porque, à época. havia empresas e universidades que, garbosamente, andavam a vender às câmaras municipais deste pobre país "Agendas Locais 21", sob a forma de Planos Municipais de Ambiente. Nunca concordei com isso, nem tampouco com a visão estreita e redutora que então se dava, e continuou por muitos anos afora a dar-se, às tais "Agendas Locais 21". Assumi publicamente, por várias vezes, a minha discordância, nomeadamente na Assembleia Municipal de Alcobaça, nos idos de 1997. Tudo entretanto mudou e tudo entretanto se esqueceu, como é próprio da natureza humana. Só que eu não esqueço facilmente as coisas. Nunca foi o dinheiro que me moveu: jamais me passou sequer pela cabeça processar judicialmente aqueles que, fraudulentamente é certo, (ab)usaram neste pobre e incauto país da marca que eu legalmente registei, e que pormenorizadamente descrevi, pois era outro o "produto que se oferecia", ao invés do puro e simples "negócio local do ambiente", generosamente patrocinado pelas "elites" corporativas de jaez diverso, e ciosamente acolhido pela gendarmerie ambiental nascente. As acções ficam com quem as toma e eu, felizmente, tenho a consciência absolutamente tranquila pois jamais participei na distorção dos princípios da Agenda 21 emanados da CNUAD em Junho de 1992, estava eu precisamente lá, no Rio de Janeiro! E também posso dizer-vos que  jamais auferi um cêntimo que fosse pelo facto de ter registado no INPI esta marca que tanto me marcou... A vida é, todavia, mesmo assim, e graças a Deus que o Sol continua todos os dias a brilhar amplamente no céu e a nascer, a Oriente. Ao menos que possamos ser felizes, mesmo quando sentimos que estamos sós. Porque, na verdade, se quisermos, nunca havemos de estar sós! Um abraço de amizade e de boas-vindas para todos, e um óptimo ano lectivo 2012/2013!

domingo, 12 de agosto de 2012

Boas Férias, e Não Esqueçam...



... Além de majestosa, a Terra é um planeta enorme, grande parte dele desabitado! Boas férias para todos.

domingo, 15 de julho de 2012

Os Princípios, os Fins e as Ervas Rasteiras

 Fonte: imagem picada aqui.

Um artigo de opinião sobre o tempo que passa, para ler em qualquer época enquanto a humanidade persistir. Cumprimentos a todos, e muita saúde e coragem!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Gestão da Água: A Procura de um Novo Paradigma

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Local: Universidade Lusófona, Auditório Armando Guebuza
Data/Hora: 14 de Maio de 2012, a partir das 18 horas
Conferencista: Prof. Engº Rui Godinho

Resumo/Abstract
 pelo
 Prof. Engº Rui Godinho

Será a chamada “crise da água” principalmente uma crise de boa “governança”? (OCDE)

Existe água para todos no Planeta Terra, mesmo em áreas onde temporariamente possam existir carências. A OCDE, nomeadamente, defende que a gestão da àgua e a sua acessibilidade por todos, não é somente uma questão de disponibilidades de recursos e dinheiro, mas igualmente um assunto de boa governança. A Conferência centrar-se-á em torno da problemática da gestão dos recursos hídricos, dos novos desafios que se colocam à concretização de adequados e sustentáveis patamares de serviços de água e saneamento, em quantidade e qualidade, procurando perspectivar os caminhos a trilhar no futuro. A gestão da água é essencialmente um problema local e regional, envolvendo uma série de stakeholders (partes interessadas) aos níveis municipal, nacional e internacional, bem como das bacias hidrográficas. Existindo muitas vezes ausência de efectiva capacidade para gerir as várias interdependências que atravessam as várias áreas políticas e entre os diversos níveis de governo, os decisores políticos encontram inevitavelmente obstáculos para desenharem e implementarem as reformas da água, quando elas se colocam como indispensáveis. Os desafios chave são institucionais, económicos, financeiros, sociais e ambientais, associados a situações de fragmentação territorial e ausência de escala em muitos casos, bem como a deficiências de gestão geradoras de ineficiências, aos diversos níveis de governo. São também insuficientes, por vezes, as capacidades que se encontram ao nível local, pouco clara a atribuição e distribuição de responsabilidades, bem como se detectam muitas vezes questionáveis critérios e formas de distribuição e alocação de recursos. Assim, o objectivo de assegurar níveis de gestão sustentável dos recursos hídricos e dos serviços de água e saneamento, implica a necessidade de se encarar a melhoria da “governação” da àgua em todos os domínios, particularmente em situações de escassez, de condições climáticas extremas, a que acresce, hoje, o factor crucial de forte carência de meios financeiros fácilmente disponiveis. Será abordada a referida conclusão da OCDE de que a chamada “Crise da Água” é principalmente uma “Crise de boa “governança”, devendo as soluções a adoptar basear-se numa abordagem holística, multi – nível e muldisciplinar, numa lógica de planeamento estratégico de longo prazo, forte regulação económica, prestação de contas e transparência, compatibilizada com o facto de as Nações Unidas terem, recentemente, acrescentado o “acesso à àgua” à lista dos Direitos Humanos fundamentais.

quinta-feira, 15 de março de 2012

O Ambientalismo e a Crise Económica

 Fonta da imagem: picada aqui.

Artigo de opinião sobre o Ambientalismo e a Crise Económica que escrevi recentemente. Como sempre, agradeço as vossas reacções e/ou comentários.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Adenda à nota sobre o (des)Acordo Ortográfico e Discurso sobre o Homo Efficientis

Fonte da imagem: picada aqui.

Para informação dos interessados, neste blogue pessoal continuará a escrever-se da forma que o seu autor, a caminho dos 47 anos de idade, aprendeu na Escola Primária de Cós, concelho de Alcobaça (escola, como tantas outras pelo país, há alguns anos encerrada por falta de crianças) ainda antes do 25 de Abril de 1974. Não se trata de uma questão de ser a favor ou contra o Acordo Ortográfico. Não sou nem linguista nem literato. Para mim a língua é um instrumento e não um fim em si mesmo. O fim continua a ser o de comunicar com os outros e o de expressar as minhas ideias e sentimentos junto dos outros. A palavra escrita é, por excelência, o instrumento do humanismo e da civilização. Embora não veja grande "lógica" em muitas das alterações introduzidas com o novo AO (não entendo em particular essa obsessão com o foneticismo, critério pelo qual poderia talvez escrever-se "cuperação" em vez de "cooperação" ou "culaborador" em vez de "colaborador"...), e me cause alguma náusea escrever "ata" em vez de "acta", ou "fato" em vez de "facto", sendo que a minha mente continua (creio que felizmente e sem necessidade de ir ao contexto) a distinguir entre aquele que espeta algo, o "espetador", e aquele que assiste a algo ou "espectador"; não obstante as densas dúvidas legais que persistem relativamente ao modus operandi da aplicação do AO em Portugal, sublinhadas por muitos e variados homens de letras nacionais; não obstante tudo isso, do que se trata no meu caso é simplesmente de uma questão de coerência: julgo que devo ser livre de escrever da maneira que me ensinaram neste país onde a sorte me fez nascer (aprendizagem feita à custa de muitas reguadas, pois sou daquele tempo vetusto em que as crianças, para o bem e para o mal, nunca tinham razão e não podiam queixar-se dos professores a ninguém, muito menos à família!), e que o Estado deve ter coisas bem mais importantes em que pensar do que na regulamentação da forma como se escreve no seu território, por sinal bastante desordenado e desertificado humanamente em muitas regiões. Continuarei pois tranquilamente a (re)inventar a língua dos meus antepassados, a inventar novas palavras, sem ter para isso que pedir licença ao Estado. Faço-o serenamente, sem qualquer instinto reaccionário e sem nenhum pensamento negativo em relação àqueles que adoptam uma ortografia diferente da minha. Sou, por natureza e convicções, liberal e pluralista. Julgo que, mais importante do que o instrumento, é aquilo que se faz, ou se pretende fazer, com ele. Por exemplo, acho incomparavelmente mais importante o Estado, enquanto guardião dos bens civis, preocupar-se com as falsidades que diariamente se escrevem e publicam do que com a língua, ou a ortografia, com que tais falsidades são redigidas. Bem sei que o tempo que vivemos, e que os meus irmãos de geração tão bem conhecem, não está bom para discussões teleológicas. Aliás para nós nunca esteve. Os fins não se discutem nem fazem parte da agenda política da ideologia dominante: ela prefere que nos distraiamos com os meios e com a sua "eficiência". Com o "aparato técnico", como avisava Marcuse.

A cama de Procrustes: imagem picada aqui.
O Homo efficientis

A palavra "eficiência" tornou-se para nós tão absoluta e inquestionável que talvez, em futuros estudos antropológicos, se venha a identificar uma nova - e perigosa - subespécie humana: o Homo efficientis, o tal "homem de acção" de que falava, no início do século XX, o poeta Fernando Pessoa pela voz de  Bernardo Soares. Espécie caracterizada pela sua a-historicidade, pela homogeneidade e fluidez informe com que se apresenta ao mundo e trata os assuntos; pelo desprezo que tem pela Política e pelo espaço público da Polis, e pela sua constante ansiedade em chegar rapidamente a lugar nenhum. Embora a geração a que pertenço tenha quase toda a sua vida experimentado as agruras de tal "evolução", julgo que, como em qualquer fase de transição evolutiva, ela não se revê claramente nessa nova subespécie humana. Até porque subsiste com frequência em nossos irmãos de geração a sensação estranha de termos chegado sempre demasiado tarde (ou cedo) aos lugares com narrativa, às tais "carreiras" e "profissões" que, segundo fomos endoutrinados, já não podem ser "para toda a vida", mas que, como sempre, continuam a sê-lo de facto para muitos - os das castas superiores, como Manu as considerava, mas com a grande diferença a Ocidente de ninguém saber a priori que elas existem. É claro que se soubéssemos a priori que estávamos condenados a nunca sair da cepa torta, jamais nos teríamos esforçado tanto para consegui-lo até porque, como Descartes dizia, o conhecimento não significa felicidade, bem pelo contrário! Não deve por isso haver ninguém no mundo mais infeliz do que o pobre rico em conhecimentos, nem ninguém mais feliz do que o ignorante possidente.

Dado que me considero um "ambientalista atípico" (noutra ocasião tratarei de explicar o que quero dizer com isso), acredito na importância de preservar a biodiversidade, a começar desde logo pela nossa grande Família Hominidae. E espero sinceramente que o Homo sapiens sapiens, de que acima de tudo me orgulho pois ainda é a espécie a que pertenço, não tenha a mesma sorte que teve, por exemplo, o seu primo Homo erectus pekinensis que o perspicaz Teilhard de Chardin ajudou a descobrir, e que acabe extinta pela subespécie Homo efficientis, muito mais apta e competitiva, e dotada de órgãos extremamente avançados: o Homo efficientis possui uma bexiga que só dá sinais de urinar quando completamente cheia, poupando água e energia ao meio ambiente; possui um cérebro que jamais duvida e que raramente se engana, controlado por um sistema operativo que tira partido de uma memória volátil e capacidade de processamento infinitas, libertando assim a pesada memória fixa antes causadora de frequentes "conflitos de fluxo". Ele realiza - Ah, suprema maravilha da tecnociência! - a fotossíntese, o que lhe permite viver sem a primitiva necessidade de ter de se alimentar, e dispensando assim a arcaica e ineficiente cavidade bucofaríngea geradora de desperdícios inaceitáveis de tempo e energia (para além das cáries) e fonte da crónica ineficiência das cadeias alimentares! A pele do Homo efficientis está dotada de nanopartículas fotosensíveis que lhe asseguram uma existência electricamente autónoma, inteiramente solar e renovável; e o seu corpo recicla todos os resíduos que produz, sólidos e líquidos, utilizando para tal o espaço liberto da cavidade crânio-encefálica, o que lhe traz importantes vantagens competitivas sobre o antepassado Homo sapiens sapiens, permitindo-lhe operar de um modo totalmente carbon free e limpo. A sociedade e a economia modernas, avançadas e competitivas como inevitavelmente se desejam, é pois disto mesmo que necessitam: da máxima eficiência que resplandece no novo paradigma de ser humano, o Homo efficientis.

Julgo contudo que seria bom manter alguns exemplares de nós vivos, em habitats adequados para o efeito, de preferência belos e resguardados da contaminação genética por parte da subespécie dominante (o Dubai, por exemplo, seria uma região a evitar a todo o custo, dado ser uma das dilectas do Homo efficientis). Dado que a evolução biológica é imparável, talvez mais tarde ou mais cedo se venha a criar também uma reserva para o Homo efficientis, de modo que as futuras gerações humanas possam ver com os seus próprios olhos como era subtil e engenhoso o seu comportamento, e como pôde, em tão pouco tempo - pouco mais de trezentos anos - pôr em risco toda a vida do Planeta, incluindo naturalmente a sua. Estou porém em crer que essa já não será uma tarefa para a minha geração