Fonte (imagem etexto): aqui
ὁ
δὲ Ἰησοῦς ἔλεγεν Πάτερ ἄφες αὐτοῖς
οὐ
γὰρ οἴδασιν τί ποιοῦσιν
Lucas,
23:34
O "professor-investigador" intermitente, do “privado” ou do “público”
não interessa – o "deus mortal" e o seu braço "secular" sempre caminharam
juntos – é aquele que “leciona” a cada semestre as “cadeiras”
que a necessidade ou a “razão administrativa” impõem; num semestre pode "lecionar" três "cadeiras", noutros uma e noutros até nenhuma, com a originalidade de poder a cada semestre "lecionar" "cadeiras" que nunca "lecionou", e deixar de "lecionar" as que já "lecionava". O "professor-investigador" intermitente nem é nem deixa de ser, mas curiosamente está
sujeito às mesmas regras de “avaliação” e
“auto-avaliação” dos seus colegas "sérios" e "permanentes”, o
que significa que é um “professor” em vias de extinção, ou em
liquidação após o saldo dos mestrados e doutoramentos em regime low-cost, para orgulho das "tias". A
“Oniversidade” de ciências “puras” ou “aplicadas”, tanto
faz, caminha há muito para aquele sítio que já se sabe: o da
“ignorância qualificada” que sempre conveio ao poder dominante, e
sempre para tal contando com a ajuda do seu “corpo docente”, um "corpo" ciclicamente dividido entre o "humanismo" e a "canibalização", ou seja, entre a ajuda ao "professor-coitadinho" - o que não tem como matar a fome do semestre se não estiver ligado a um "projeto" ou não tiver umas horitas por semana para "lecionar" - e o "castigo" ao "professor-mau", o "rico" ou "aposentado" (para não falar do "crítico" que faz demasiadas perguntas) que ainda consegue, ou dá ares de conseguir, matar a fome sem ter de "lecionar". O "professor-investigador" intermitente, apesar da intermitência, é
coisa doce para as estatísticas do desemprego: basta estar “coletado”
na CAE “professores” para já não ser um temível – porque
a-social – “doutor desempregado”; se “produzir” por semana duas ou três horitas de “lecionação” tanto melhor para a "economia nacional" que assim, com mais uns cem euritos por mês sujeitos a IRS, há-de "crescer" mais. O "professor-investigador" intermitente está “socialmente”
obrigado a vestir-se bem (ou cuidadosamente mal), a ter bons modos e a dominar as tecnologias de “ponta”, ou mais modernas, sendo muito arriscado, por exemplo, fazer-se transportar em veículo próprio com mais de 5 anos de idade. Deve anualmente, sob pena de má avaliação, publicar artigos nas melhores revistas científicas mundiais, contribuindo assim para o "pügresso" da ciência e da técnica mundiais e para o "prestígio" científico do seu querido país. Deve ser um eterno "jovem" mas, ao contrário dos jovens, está proibido de dizer asneiras – como merda, caralho e foda-se – porque, “óviamente”, não é
isso que a “sociedade” nem as boas “famílias” esperam dele, de um
“senhor professor doutor” do ensino “superior”. Tem de ter
sempre as botas engraxadas e deve lavar as mãos antes de ir
para a mesa. A ele estão vedados os vícios e as paixões dos comuns mortais: um
“cientista” não fuma, não cospe para o chão, não vê pornografia sexual (quanto à intelectual é obrigado a vê-la) nem pensa em
homens ou mulheres nus para além dos seus legítimos. Deve olhar com
respeito as “autoridades” e os seus “superiores hierárquicos” e não pode, "óviamente", dar-se à “liberdade de expressão” - dizer coisas como estas, por
exemplo – uma vez que a “liberdade de expressão” tem, para o "professor-investigador" intermitente, severos limites que a "missão educativa" impõe.
Recomenda-se-lhe pois “juizinho”, antes que os “donos”
soltem os cães e o proscrevam publicamente: a multidão ignorante e
faminta ama o sangue e o pelourinho, e nada melhor e mais instante do
que um “professor doutor” amarrado ao pelourinho, para catarse dos
“simples” e gáudio dos “puros”. São, no fundo, gajos que pensam que sabem alguma coisa quando, na verdade, o “povo” é quem sabe, além de ser quem
mais “ordena”!
Sem comentários:
Enviar um comentário