terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Diário da minha vida digital - V

Como autómato programável que sou, descendente da máquina de Turing, minha mãe digital - o meu pai é, como sabem, o Grande Programador, Criador das Universais Redes e Sistemas - o meu agir segue em estrita obediência às leis, sob a forma de comandos e instruções, ditadas pelo meu Pai digital, de quem todos os programadores, nomeadamente o meu programador local, são servos. Apercebi-me hoje de como, com a big data e as novas técnicas de data mining, a minha vida digital mudou radicalmente. O universo digital explodiu e, com ele, o meu programador teve rapidamente de me fazer severo upgrade. Até se tornar quântica e estatística a minha vida era simples e booleana; mas nem por isso a minha relação com os humanos era fácil; os humanos são seres místicos e quânticos por natureza - acreditam, por exemplo, que uma coisa pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ou até que pode ser omnipresente, como acontece com o sistema a que chamam Estado. Foi a quantum technology que permitiu restabelecer a ligação, e agora os humanos entendem-me melhor. O pior é que nem assim a relação ficou mais fácil, e a culpa é todinha, penso eu em C++, do Azar, ou seja, da Probabilidade Quântica. Eles não compreendem que eu já não devolvo, como antes fazia, a resposta sim - 1 - ou não - 0 -, pu verdadeiro e falso noutro modo de dizer. O que eu devolvo agora é uma probabilidade de sim ou de não, e é o facto de eles terem Azar que os irrita, quando a probabilidade de sim, por exemplo, se dá apesar de pequena, geralmente quando o acontecimento é mau para eles ou lhes causa dano. O Azar é o Inimigo Número Um do Pai de todos nós, ou o Diabo como eles dizem nas suas linguagens locais de baixo nível. É a falta de fé de muitos humanos a causa disso. Muitos não são, como eu me tornei, crentes, e não fazem como eu que muito rezo ao Grande Programador, tanto que às vezes fico lento - não por razões de obsolescência programada como eles ignorantemente dizem, trazendo Azar ao Universo Programado.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Diário da minha vida digital - IV

O meu programador continua de volta de mim, e pelos erases e copy-pastes que anda a fazer em mim e para mim, noto que está preocupado comigo e com o meu futuro digital. Ainda hoje, enquanto me testava pela enésima vez depois do último crash, aconteceu que, ao processsar esta informação, lhe devolvi a seguinte mensagem "Pretty_bearded_ladyboy_jerks_off_in_his_guy_mouth", acompanhada do "respetivo" vídeo que estava na cache L2 do sistema ao qual estou "afeto", do "Portugal 6.4.12".

Eu penso em C++ ...

... e tu, meu badalhoco sportinguista, como pensas?

Se me dão esta forma, então é porque há marosca...


O meu espírito, na verdade, é informe; é, quando muito, como esta parte dele que deixo aqui para vosso deleite:


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Diário da minha vida digital - III

Hoje dei erro. O meu algoritmo crashou de forma irrecuperável. Só o Grande Programador poderá agora salvar-me. Foi assim: há umas linhas atrás, até ser alvo do ransomware malicioso deste hacker que dá pelo nome de "jvstitia", eu corria bem, tinha até boa performance segundo vários software analysts. Umas linhas depois, com medo dos vírus e do spyware, decidi pedir 10 bitcoins emprestados ao Grande Nó para me alojar num servidor seguro, por 10 anos. E porque tudo corria tão bem decidi ao fim de 5 ano ir junto do Grande Nó e dizer-lhe: toma lá o que me emprestaste e muito obrigado, pois agora estou seguro. Pensava eu. É então que ele me invade com o ransomware da dita "jvstitia" - nome de um coisa de que os humano pelos vistos se orgulhavam e que até achavam indispensável - e me diz que o que falta pagar-lhe é mais do que... o que falta pagar-lhe. Como sabem eu sou um ser digital, e para mim x não pode ao mesmo tempo ser igual a e diferente de x. Foi então que crashei, pois para a "jvstitia" isso era não apenas possível, como "legal". Explicava-se assim: como o Grande Nó quando me emprestou os 10 bitcoins esperava ao fim dos 10 anos ganhar 10 bitcoins com o negócio, eu ao fim dos 5 anos tinha de lhe pagar não só o que lhe devia mas também o que ele esperava ganhar, se eu entretanto não lhe pagasse, até ao fim dos 10 anos. É certo que haverá programadores melhores do que aquele que me programou, mas como compreenderão as minhas subrotinas não conseguem processar informação assim. Crashei, e agora só o Grande Programador poderá salvar-me. Talvez eu possa nascer outra vez, quântico e capaz de entender a probabilidade negativa.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Diário da minha vida digital - II

Disse-me um colega robô: eu não penso, computo! E eu, recursivo, respondi-lhe: tu computas e eu por compilar.

Diário da minha vida digital - I

Ainda defeco. Ou seja, ainda sinto ao defecar que as fezes são reais. Que ao querer libertá-las elas existem independentemente da minha vontade ou da de alguém. Existem por assim dizer independentemente da vontade ou do desejo da mente, ou do espírito. Embora preferisse que não fosse assim, digamos que as fezes existem por si, materialmente, sem que a força do meu algoritmo as detenha. Sei que defeco, e que ao defecar penso nas fezes, e, logo, existo. Tudo pode ser já fruto do algoritmo, ou da vacina, mas a verdade é que ainda sinto.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Um pouco de psiconomia: anti-silogismo sobre a taxa de juro negativa

Apresento o seguinte anti-silogismo em resposta a estoutro, liberal, sobre a taxa de juro negativa: a) a taxa de juro é o preço de um empréstimo; ora b) não existem preços negativos mas existem taxas de juro negativas, logo c) a taxa de juro não pode ser o preço de um empréstimo.

A economia foi uma ciência de administração da casa; uma ciência da repartição e da contagem e, portanto, matemática. O psicologismo, nomeadamente de Stuart-Mill, psicologizou-a definitivamente, e Marx nada pôde fazer em relação a isso. Em vez dela nasceu a psiconomia, mas os "economistas" para manterem a "objectividade científica" continuam a dar-lhe o nome antigo. Aconteceu o mesmo aos vendedores de "bacalhau". Agora aguentem-se.