segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aquecimento Global: Ciência, Política e Controvérsia. Texto revisto e acrescentado, ao qual acresce uma pergunta: terá havido aquecimento global em Marte causado por seres vivos marcianos?

Imagem picada aqui.
 

A política e a (nova) economia das alterações climáticas há bastante tempo que nos vem afastando do essencial, que é pôr a Ciência, com maiúscula, ao serviço da sociedade. Se aceitarmos como verdade que o "aquecimento global", ou melhor, o seu suposto agravamento recente, é devido a nós, humanos, por causa das nossas emissões de Carbono de origem fóssil, vemos que isso é bom para todos os intervenientes, à excepção de cada um de nós, individualmente, enquanto consumidores de produtos energéticos de origem fóssil e da miríade dos produtos derivados do petróleo. É isso que torna desde logo suspeito o enfoque actual na "luta contra o aquecimento global". Os governos ganham com a luta, pois podem cobrar mais taxas e impostos aos seus cidadãos; as companhias petrolíferas também, pois, cartelizadas como é sua regra, beneficiam do "clima" propício ao agravamento dos preços do petróleo e do gás; os produtores de automóveis ganham, pois continuam, como sempre, a fabricar e a vender máquinas a diesel e gasolina, ao mesmo tempo que recebem apoios públicos para o desenvolvimento de soluções de transporte "mais sustentáveis" (como se elas não existissem há décadas!); os grandes conglomerados financeiros e económicos ganham, pois os enormes custos que a luta envolve deixam os Estados nacionais mais fracos acelerando, como é desejo das corporações, o seu controlo totalitário por parte destas. Enquanto a luta se vai travando, instituições como o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) ou a Agência Europeia do Ambiente (EEA) vão, ingenuamente (?), produzindo relatórios e inventários de emissões nacionais de gases com efeito de estufa (GEE), como se o Carbono ainda tivesse alguma "nacionalidade" depois do proclamado "fim da história" e de mais de duas décadas de desregulamentação e liberalização dos mercados mundiais, promovidas pelas suseranias supranacionais da Organização Mundial do Comércio (WTO), do Banco Mundial (WB), do Fundo Monetário Internacional (IMF) e da União Europeia. Não se pode continuar a passar ao lado de uma realidade cada vez mais flagrante: entre os principais emissores (ou indutores de emissões) mundiais de Carbono de origem fóssil encontram-se não somente Estados nacionais, mas crescentemente corporações e conglomerados económicos globais que escapam "milagrosamente" a qualquer inventário de emissões! O IPCC desculpar-se-á com uma qualquer dificuldade técnica ou "metodológica", relacionada por exemplo com as dinâmicas empresariais modernas ou com a disponibilidade de dados. Irrelevâncias para uma organização que, quando quis, conseguiu sempre ultrapassar os obstáculos "técnicos" existentes à quantificação das emissões. Mas, se esta evidência é já, no mínimo, flagrante (veja-se, entre as 175 maiores entidades económicas mundiais em 2011, quantas são Estados nacionais e quantas são corporações ou conglomerados económicos), para quê a persistência em quantificar as emissões "nacionais" de Carbono fóssil senão para "culpabilizar" e tornar (ainda mais) vulneráveis os respectivos Estados?

Os governos nacionais, incapazes de fazerem frente a este ataque, seguem o rumo traçado pelas corporações globais. À medida que a economia se descarboniza, reduz-se o espaço de acção política dos governos para benefício da sociedade, e aumenta a sua dependência da “boa vontade” das corporações para o cumprimento dos seus deveres constitucionais. Inevitável se vai tornando aos poucos tudo aquilo que não podem, ou não querem, enfrentar. Os governos nacionais do mundo Ocidental (a começar pelo dos EUA), e provavelmente cada vez mais os governos do resto do mundo, estão hoje rendidos à arbitrariedade e aos interesses das grandes corporações globais. Contribuiu muito para isso no Ocidente o terem deixado corromper-se, aliciados por tentações como a de lutarem contra inimigos hipotéticos, ou pelo menos fortemente exagerados e distorcidos, amplamente difundidos pelos media de massas modernos. Media criadores de ilusões, para quem a “notícia” é um bumerangue (veja-se o curioso logótipo da empresa de media Controlinveste) que, uma vez lançado com a ajuda das agências de informação e comunicação, traz de volta lucro certo para as corporações. A notícia vende – conferem os analistas. Mas a ilusão criada no que concerne à luta dos governos (corrompidos) contra o "aquecimento global" desfaz-se rapidamente perante a seguinte questão: quanto valem anualmente as taxas ecológicas que recaem directamente sobre os consumidores nacionais de produtos petrolíferos (famílias e pequenas e médias empresas), e quanto valem as licenças, taxas e compensações pagas aos Estados nacionais pelas corporações que exploram e comerceiam sob sua licença os recursos energéticos de origem fóssil? Seria lógico que tais parcelas fossem idênticas, pois tão responsáveis pelo aquecimento global de origem antrópica são aqueles que consomem os combustíveis fósseis como as corporações que os exploram e colocam à venda com licença dos Estados. Mas a ilusão é a seguinte: os governos nacionais (e locais), tão “empenhados” que estão na luta descarbonizadora, fazem o papel de vilões, o que aos poucos os descredibiliza, pois cobram a uns (mais) e às outras (menos), como de resto acontece com produtos como o tabaco, as drogas "legais" e as bebidas alcoólicas. Lastimando os malefícios que causam ao clima os GEE, ou à saúde e à segurança rodoviária o fumo do tabaco e o vinho, os governos nacionais são os principais dependentes e beneficiários de tais vícios, e não parece! Eis portanto a ilusão. Corrompidos, os governos nacionais e as corporações globais ganham assim ambos na exacta proporção em que os Estados nacionais perdem! Como pode um governo empenhar-se na luta contra o aquecimento global quando ao mesmo tempo aprova um plano nacional de produção de petróleo e gás? E porque ficam as ONGAs nacionais em silêncio perante tal atentado carbónico? Ou será que tudo isso não passa de um fait-diver, uma forma de o governo dar avais a projectos muito caros e arriscados de prospecção de petróleo a grandes profundidades? Outro exemplo: porque razão um governo nacional, como o dos EUA, empurra a exploração petrolífera, reduzindo-lhe os impostos, para zonas de offshore onde os riscos ambientais de um acidente são incomparavelmente maiores, o que poderá em última instância ter levado ao maior desastre ambiental da história dos EUA? O que estou fundamentalmente a dizer é o seguinte: um governo que luta contra o aquecimento global não é necessariamente um governo bom ou amigo da sociedade, do Estado nacional ou do próprio ambiente. Pode muito bem ser o contrário disso tudo! Eis o erro em que poderão incorrer, e certamente incorrem, muitos ambientalistas incautos.

Ganham também com a luta descarbonizadora os (geralmente maus) cientistas postos ao serviço da "nova Cruzada descarbonizadora", pois vêem os seus centros e projectos de investigação generosamente financiados por fundos públicos e fundações privadas geridas pelas corporações globais. Isso aconteceu em Portugal, por exemplo, com os projectos SIAM I e II, que teriam merecido um melhor escrutínio científico, pois que de facto quase nenhum houve, o que também demonstra a pequenez científica de uma nação. No livro que brevemente penso publicar debruço-me em pormenor sobre alguns erros fundamentais dos relatórios e cenários do SIAM, amplamente divulgados em Portugal, e publicados por uma editora de "largo espectro de audiência", a Gradiva. Para além de toda a acumulação de "provas científicas" de que o aquecimento global antrópico é causa de uma infinidade de males que actualmente flagelama humanidade (guerras, tempestades, terramotos, doenças, etc.) espera-se agora, com alguma indiferença pessoal, entenda-se, pois sei que a estupidez humana é infinita, que a "revelação histórica" do Curiosoty em Marte, mantida em segredo pela NASA, a divulgar provavelmente durante a reunião anual da União Americana de Geofísica, a decorrer na Califórnia já no início do próximo mês de Dezembro de 2012, não seja uma espécie de prova derradeira: a de que houve vida em Marte, decerto "vida inteligente", que se terá extinguido devido ao aquecimento global causado nesse planeta terrestre. Tudo é possível num tempo onde domina a força da ignorância de que falava Orwell. Se tal vier a acontecer, recomendo a Ciência com maiúscula, neste caso tratada por especialistas como a neerlandesa Ewine van Dishoeck, que refere por exemplo: «Organic compounds are ubiquitous in space: they are found in diffuse clouds, in the envelopes of evolved stars, in dense star-forming regions, in protoplanetary disks, in comets, on the surfaces of minor planets, and in meteorites and interplanetary dust particles.». Ou seja: existem moléculas contendo Carbono em todo o Universo, sem que isso signifique necessariamente que exista, ou tenha existido alguma vez em algum ponto desse Universo, vida tal como a conhecemos. A tentação é grande, mas espero (sempre esperei, não obstante infrutiferamente) que a verdade humana prevaleça já que a outra, com V maiúsculo, somente a Deus pertence.

Finalmente - prosseguindo a nossa elencagem de ganhadores - ganham os apostadores e especuladores financeiros, gente de casino que tem mais um "produto financeiro" para negociar nos chamados "mercados do carbono" e também, como já parece irreversível, nos futuros "mercados de serviços dos ecossistemas" criados em nome da "protecção da biodiversidade" (ou seja, quando os Estados nacionais colocaram legalmente grande parte dos seus territórios sob um qualquer estatuto de protecção ambiental; quando as verbas escasseiam para assegurar a manutenção e gestão de tão extensas áreas naturais; e quando os conglomerados económicos e financeiros, apostados no decrescimento económico, pois bem sabem como os recursos naturais são importantes mas limitados, temem ver os seus lucros reduzidos por falta de poder de compra das pessoas: aí surge a oportunidade de prolongar por mais algum tempo o "business as usual", convertendo os bens ambientais em commodities negociáveis e em breve facturáveis aos cidadãos (que ainda restarem), após os respectivos governos nacionais terem cedido à "inevitabilidade" de entregar aos cuidados das corporações as extensas (e muito valiosas) parcelas dos seus territórios, actualmente correspondentes às áreas e zonas protegidas (e.g. parques naturais, zonas especiais de protecção, sítios da Rede Natura). É o chamado capitalismo natural, defendido por teóricos como Herman Daly e Robert Costanza, expoentes da revigorada economia ecológica. Lamento que muitos biólogos e cientistas afins não percebam esta ameaça, surgida a pretexto da razoável ideia da necessidade de promover uma adequada "valorização da biodiversidade". Não me restam dúvidas: as piores armadilhas são aquelas que nós próprios, por ignorância, tecemos. Mas finalizando: todos ganham com a luta contra o "aquecimento global" de origem antrópica, à excepção do Estado no seu sentido original ou seja, à excepção do... Zé que tudo vai ter de pagar, de alguma forma...

Além disso, mas não menos importante, passa a estar inteiramente sobre os ombros do "Zé" a culpa de todas as calamidades "naturais" presentes e futuras: cheias, terramotos, maremotos, pragas, incêndios, doenças, epidemias e pandemias - como aliás já escrevi há mais de dois anos num texto publicado no Jornal das Caldas (a imprensa nacional há muito tempo que não publica textos inconvenientes para as corporações que a sustentam). Nada mais conveniente numa altura em que os governos nacionais se vêem confrontados com a "inevitabilidade": dos cortes na despesa pública com a saúde, a educação e a segurança dos cidadãos, entre outras. Inclusive as corporações seguradoras devem ganhar com tudo isto, pois a verdade é que estão sempre fadadas a ganhar... e a pagar o mínimo quando o azar acontece (talvez passem a colocar nos contratos uma cláusula estabelecendo que, em dias de "alerta laranja", ou "violeta", ou de qualquer outra cor denotando as inclemências do estado do tempo, não se responsabilizam pelos danos que houver...).

É isto que é perigosamente suspeito. E é a isto que se juntam as muitas dúvidas científicas sobre a teoria dominante do aquecimento global de origem antrópica, por força das emissões de CO2 e outros GEE. Há vozes de cientistas a favor e contra essa teoria que há anos esgrimem entre si os respectivos argumentos. Não entrarei nesse debate, pois em relação à sustentabilidade preocupam-me actualmente outras questões que acho bem mais importantes, e a minha idade já não permite que perca tempo com discussões que se prefiguram infindáveis e, portanto, inúteis. Se, como muitos reconhecem, o assunto do aquecimento global causado pelos humanos é político, então que político seja e que cada um pense como quiser. Parafraseando Keynes, a única certeza política que tenho é a de que, a prazo, estaremos todos mortos.

Optando pois por um agnosticismo saudável nesta questão, deixo-vos aqui alguns vídeos, dois deles legendados em português, que sintetizam as posições pró e contra a teoria de que o aquecimento global recente está a ser acelerado pela actividade humana (teoria que no Brasil, país muito mais atento a estas coisas do que Portugal, recebeu o nome de aquecimentismo). Como o mais frequente é as teorias científicas estarem de alguma forma erradas, isso significa que o melhor a fazer é continuar, afincada e honestamente, a estudar o assunto. Começando, claro está, pelas bases: a Física e a Química da Atmosfera, coisas nada fáceis ou simples, como aliás sublinho nas minhas aulas de Climatologia. Bom visionamento, e bom estudo!
 
Vídeos pró-aquecimentistas
 

Uma Verdade Inconveniente - Legendado PT from MDDVTM TV7 on Vimeo.




Vídeos anti-aquecimentistas






Aquecimentismo em Portugal

Em Portugal a discussão aquecimentista tem sido pouco divulgada, como é regra no país em relação às grandes discussões e debates que afectam o mundo contemporâneo. Uma excepção assinalável foi a RTP2 que, em mais do que um dos seus programas, trouxe o assunto a debate. Por exemplo no programa Sociedade Civil, em 2010, confrontaram-se as posições pró-aquecimentistas dos Professores Francisco Ferreira (da FTC/Universidade Nova de Lisboa) e Filipe Duarte Santos (da FC/Universidade de Lisboa) com as posições muito críticas do aquecimentismo defendidas pelo Professor Joaquim Delgado Domingos (do IST/ Universidade Técnica de Lisboa) e pelo Engº Rui Gonçalo Moura (falecido pouco tempo depois do programa). Vejam, estudem, pesquisem e depois formem a vossa opinião. Eu há muito que formei a minha.