«Havias tu e havia o rochedo, inseparavelmente belos naquela tarde cinzenta de Agosto. Partiste tu e ficou o rochedo que, certo dia, se partiu deixando cair junto dele na areia uma pedra rolada com sulcos que pareciam ter sido rasgados para os dedos das minhas mãos. Nem o rochedo eras tu nem a pedra parecia dele, mas eu achei que não e por isso longamente falei-te ao rochedo esperando que me escutasses, e quando a pedra caiu julguei que era o teu coração que caíra. Peguei nela delicadamente sem a levar comigo, pois o seu lugar era certamente aquele junto a ti antes de partires; vezes sem conta a ergui aos céus para nos dar forças até que um dia ela sumiu – alguém ou a maré a terão levado, ou talvez ainda lá esteja enterrada sob um manto de areia tão espesso que não consigo desenterrá-la. É lá que vou desde então quase todos os dias, à espera que o mar ou alguém a tragam de volta.»
Segismunda Frida, O meu totemismo, Pers. Com., 5 de Vendemiário de 232
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