Há cinco anos atrás numa noite na Sociedade de Fontanelas um rapaz jovem, magro, com 1,85 de altura para aí - moreno, de barba e cabelo muito escuros, bem bonito diga-se de passagem - altercava à hora de fecho com colegas que na altura estavam com ele. Falavam de política e todos estavam já bastante bebidos. A coisa começou a dar para o empurrão e eu, que estava com o meu amigo escultor, cheguei-me a ele e resolvi abraçá-lo. Não conhecia o André nem ele a mim mas a verdade é que o meu abraço acalmou-o, e a partir de então ficámos amigos. Carinhosamente chamei-lhe "André revolucionário", e é com esse nome que o tenho ainda gravado no meu telefone. Tinha ele então 32 anos e eu, embora mais velho, já com 53, quis conhecê-lo melhor e aprender com ele. Foram cinco anos de amizade, com lições de Surf, "aulas" de pesca submarina, carpintaria e engenharia civil - o André era engenheiro civil - e longas conversas sobre tudo e mais alguma coisa, e sobre política também. Descobri um André igualmente curioso sobre mim, disposto a acompanhar-me e interessado nas minhas opiniões. Que ele às vezes achava um pouco estranhas para alguém tão cota quanto eu. Sobretudo para alguém que ele talvez achasse tão "instalado" na vida. Fechámos muitas vezes os bares e "tascas" dos nossos arredores, e um dia ele apresentou-me a namorada, uma jovem francesa muito bela também, a condizer em tudo com ele. (Não ponho o nome dela aqui obviamente). Fui a casa deles e eles vieram à nossa. Comemos juntos inúmeras vezes e eu cheguei até a "assassinar" - por má cozinha minha - dois polvos frescos que ele um dia pescou e trouxe para eu cozinhar. Tentei recompensar o "dano". Era um rapaz tímido, generoso e muito simpático. Tal como a namorada, com quem já tinha casado entretanto. Em Março deste ano (2023) tiveram um menino, e em Julho fizeram uma festa de casamento para as famílias e amigos de ambos, e para a qual nos convidaram. Fomos e foi uma noite incrível e inesquecível. Com muita dança e alegria. Ainda por cima mesmo aqui ao lado de casa. Em Agosto, depois da festa de casamento, estivemos todos cá em casa numa tarde amena de boa conversa, petisco e, como sempre, algum vinho. O André parecia porém um nadinha nervoso. Como se alguma coisa secretamente o inquietasse. Ele amava o filho e mesmo nervoso conseguia sempre adormecê-lo nos braços dele. Era uma doçura de pessoa apesar do seu corpo jovem e forte. Depois passaram duas ou três semanas e, após algumas tentativas, finalmente atendeu-me o telefone. Tinha tido um episódio de saúde que me disse tê-lo assustado, pois tivera uma espécie de ataque que o deixara inconsciente e incapaz de mover-se. Mas - disse-me - já tinha recuperado. Após termos tentado marcar mais um encontro - a culpa foi nossa porque andámos em Setembro com outras preocupações - disseram-nos que iam passar umas breves férias aos Açores e que, quando regressassem, nos ligavam. As semanas passaram e não chegaram notícias. Liguei e o telefone dele nunca estava disponível. O meu querido amigo André tinha falecido nos Açores, com um derrame cerebral, aos 37 anos de idade, e a sua querida mulher, a viver o pesadelo, nem nos conseguiu dizer nada. Só soube da terrível notícia há pouco mais de um mês, e desde então tenho andado triste e desorientado. Eu amava o André e devia ter morrido muito antes dele. Agora penso naqueles que amo - e por quem estou estupidamente apaixonado - e apetece-me morrer rapidamente, antes que algum deles me deixe ou me morra primeiro. É triste, mas é o que ainda sinto. Até sempre meu querido André!
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