sábado, 30 de março de 2024

Perguntas repelentes II - Será que os pássaros..

 ... distinguem a luz do Sol da luz das minhas lâmpadas LED? E o que dizer da passarada em relação à luz que emana das telas dos ecrãs? A Joana Amaral Dias responde. E muito bem.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Leituras do tempo DCXIII - Brevíssimo conto sobre o supremo valor da linguagem pura e descomplicada (!), "exata" e "natural" (!!), da ciência e das leis modernas...

 Na escola comentou a criança perante a professora depois desta dizer "Sigamos em frente!": 

- Sigamos em frente, porque para trás mija a burra!

A professora estancou subitamente, hirta e lívida após ouvir o que a criança dissera. Como podia ela  dizer tamanha coisa, que nem ela mesmo compreendia? Que linguagem era aquela? Tão distante da realidade da ciência e das leis? 

Afastou-se discretamente, e já fora da sala pegou no telefone. Disse:

- Doutora, acho que temos aqui um problema...

-  A psicóloga quis saber pormenores mas a professora foi taxativa:

- Vou mandar a aluna Y ao seu gabinete. Acho que deve ser imediatamente sinalizada.

Passados uns dias os avós da criança foram inesperadamente visitados. Eram as autoridades protectoras das crianças. Um deles foi detido por abuso psicológico de menores, o outro mandado para avaliação psicológica. Já os pais da criança enfrentam agora um processo judicial por abandono da mesma. 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Momento diário da gargalhada CXLV - Não fui eu avozinha, foi a inflação!...

 ... dirá mais tarde o funcionário... à semelhança dos outros todos... dirá que foi a fada madrinha... princesa da fé monetária... quem cortou à reformada a pensãozinha de miséria... essa princesa da fé no que não vale absolutamente nada... ou melhor... vale só para quem importa que valha... para as massas crentes que são o grande número... a "sagrado" banca há muito ri quando lhe pedem mais dinheiro... por trás dele as armas apontam... aos crânios endividados... e onde ou quando não há dívida cai bomba... que é seguramente um "poucochino" bué (!) mais péssimo...

... olha filha... sabes... já decidi e vou mesmo votar no 10 de Março...
não em branco claro... que é inseguro... como os cheques de antigamente...
será que ainda te lembras desse tempo áureo em que
 até galdérias como nós... andávamos de livrinho de cheques na valise em
pele de carneiro? Vou votar... dizia-te... 
como os politólogos acham que votam as ignorantes...
nulo "portantos"...  mas com um das caldas grande e grosso...
posto bem "ereto" ao centro do boletim do voto...
até vou levar os marcadores da infância para o pintar bem...
castanho escuro no tronco... violáceo na ponta...
e rosáceo na indispensável base de apoio... popular...

domingo, 28 de janeiro de 2024

Leituras do tempo DXCVIII - Lisbon revisited...

Não: não quero nada

Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!

A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.

Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.

Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?

Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.

Assim, como sou, tenham paciência!

Vão para o diabo sem mim,

Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!

Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!

Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.

Já disse que sou sozinho!

Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —

Eterna verdade vazia e perfeita!

Ó macio Tejo ancestral e mudo,

Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...

E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, 1923

Fonte aqui.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Momento diário da gargalhada CXLIV - «A Europa é um herbívoro num mundo de carnívoros»...

 ... alerta o Borrell... pondo fim ao vegetarianismo "bom" EUpeu...

... ai filha... como eu gosto de um bom "choiriço" de carne...
  estes borréis devem andar borrados com medo.... 
que a gente já não os coma...
e não vote achega achega como eles 
provavelmente desejariam.... para poderem endurecer o 
seu "socialismo"...  que anda tão murcho...

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Leituras do tempo DXCVI - E outro elogio a uma jornalista... das poucas também que ainda sobram.... desta vez já recorrente por aqui, a Joana Amaral Dias...

 ... que ainda parece manter o seu sexto sentido intacto.... e que sobre o "jornalismo" não tem papas na língua... mas compreende-se perfeitamente que seja pouco lida...ou lida apenas com rancor... em especial pelos jornaleiros vassalos de um poder que tudo fode,,, na esperança que ele lhes dê alguma coisinha a foder...esses jornaleiros que avultam desde o pasquim da paróquia e do município... até ao assessorado informativo das potências do G8... passando por outros lugares de prostituição "inteletual" que agora não tenho tempo para escrever...  Obrigado Joana!

Leituras do tempo DXCV - Elogio a um jornalista, dos poucos que ainda sobram, e que vale mesmo a pena ler... chama-se José Júdice...

 e escreve por exemplo assim... maravilhosamente bem... com as palavras abraçando ainda as coisas e a realidade do mundo tal como ele é... obrigado José!

Ideias revolucionárias I - Quatro medidas de um programa político de revolução em Portugal... revolução simbólica... como deve ser... daquelas verdadeiramente humanas que não matam... mas fazem ao mesmo tempo rir e chorar...

1. Acabar com as designações humilhantes, violentadoras da dignidade humana, de “sujeito passivo” e “domicílio fiscal” usadas pela autoridade tributária; 

2. Revogar o acordo ortográfico de 1990, igualmente humilhante, além de desconcertante e violentador da origem de inúmeras palavras da língua portuguesa 

3. Remover a estátua do fascista e anti-liberal Sebastião de Melo e, se não for possível substituí-la pela de alguém que mereça, substituí-la pela escultura em formato XXXL do mestre Cutileiro que em formato S está ao cimo do parque Eduardo VII 

4. Remover do espaço público os pelourinhos (ou picotas) de Portugal se, num prazo de seis meses, os autarcas que os têm nas suas freguesias e municípios não fizerem o esforço justo e necessário de os apresentar publicamente tal como foram e continuam a ser para quem os conhece – monumentos à humilhação e morte públicas de seres humanos.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Momento diário da gargalhada CXLIII - Troço a troço aumenta o TGV o caroço... e outras mitologias da alta velocidade...

 ... como a do Faetonte... que também quis tomar o Sol pelas rédeas... e acabou fulminado por um raio de Zeus... (isto agora anda outra vez tudo "tonte" dirão os "céticos")... mas vamos ao assunto...  o troço de Campanhã a Oiã já se estima custar 3550 milhões de patacos... sem contar com os deslizes... a inflação... o esquentamento climatérico.. as guerras... pandemias... o horror das estações e apeadeiros... as habituais chatices ivrídicas... números que valem o que valem... que é muito pouco... pois variam constantemente e mais parecem tirados de uma tômbola de lotaria em rotação... mas sempre com aproximação às cagasésimas... (ou aos constâncios de crescimento e-cunómico, escolha o que der mais jeito)... diria eu de que (!) só até Soure a coisa poderá chegar facilmente aos 15 000 milhões de patacos... e depois ainda falta chegar ao Carregado... e depois chegar ao Oriente... um achega achega que nunca mais chega... (e já estou a desconsiderar a próxima a-ventura CHEGA)... um verdadeiro buraco negro de matéria financeira... se a ideia é gastar o mais possível  fazendo o mínimo possível... (afinal é um "projeto" no mundo real ou não digital... uma anomalia nos tempos digitais que correm)... para ajudar o "pobre" sistema financeiro digital global a manter-se e prosperar por cima da terra queimada...  então... sugiro desde já... sem troçaria... que se sub-trocem os troços o mais possível...  troçando os estudos do impacto ambiental o mais possível em formato simplex... sub-troçagem que poderá levar a custos inimagináveis... o que mostrará aos "investidores" a grandeza da unidade de exploração ".pt" e dos sujeitos passivos que por cá ainda vão tendo domicílio fiscal...  Ah e há ainda aquela mitologia da "empresa nacional"... a fazer lembrar as dos antigos gregos... pois ou as empresas não são "nacionais"... ou  as que ainda têm alguma "nacionalidade"... todas juntas... não conseguiriam acabar as obras em menos de um século ou dois... segundo as minhas estimativas de áugure inseguro.... quanto ao tal "futuro"...

... olha filha... sabes... isto do TGV é como aquela coisa dos preliminares...
são bons é verdade... e eu gosto muito deles como sabes...
mas se forem em demasia pode ser um desconsolo...
um gasto de soft energy que nada deixa para o hard
...  da concretização... que a gente espera e também precisa... 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Leituras do tempo DXCI - Carta de amor de um ex-velho homem apaixonado à jovem paixão que lhe salvou a vida sem saber...

Escreveu o velho homem:

«Nada pior que as paixões lentas. As que ardem lentamente queimando o coração sem lhe dar tréguas. Excitando a carne para lá dos limites do razoável. Do que ela ainda consegue aguentar. Escrever é esquecer (dizia o Ricardo Reis) e por isso escrevo agora ainda com a lembrança fresca. Da paixão tardia que tendo sido não tinha de ser nem certamente como ser. Talvez a última paixão de uma vida. A primeira talvez que chegou a acender o seu pavio. A que sacudiu o corpo e o adormeceu sem lhe dar a mínima chance. Naquele dia de Agosto foi assim e não mais deixou de ser assim – o assim aumentou e incendiou o corpo até ao centro. Até ao lugar de onde ele já não podia fugir. Tarde demais. O possível não tem como voltar a ser o mesmo possível. O entardecer encurta-o e corta-lhe as pernas. Demasiado cruel talvez. O impossível derradeiro guardião de um destino. Olhei-te naquele dia e fiquei completamente preso a ti. A cada fraterno e apertado abraço que desde então nos fomos dando mais preso a ti fui ficando. Às tantas sentia o teu cheiro e quase enlouquecia. Mas nada aconteceu. Escrevi o teu nome em letras garrafais na areia da praia. Gritei-o bem alto às aves e aos ventos para que talvez me ouvisses. Mas nada aconteceu. Saber de ti só mesmo pelo teu horóscopo. E por isso li-o todos os dias durante dois lentos anos esperando que ele me falasse de ti e de um possível encontro de nós dois. Mas nada aconteceu. Comecei então a duvidar que fosse visível e ainda existisse realmente para ti. E entardecia. Mesmo assim ainda me julgava forte o suficiente para mudar tudo e viver finalmente o amor liberto da minha vida. Um que se bastasse a si mesmo sem precisar de mais razões para provocá-lo. Preparei o meu corpo para ti. Esvaziei a minha alma de muito lixo que tinha lá dentro. Não imaginas o bem que me fizeste sem saberes que o fazias, e pelo qual te estou eternamente grato. Literalmente rejuvenesci a pensar em ti. A imaginar que um dia faríamos amor como dois jovens loucamente apaixonados. Mas nada aconteceu. A dada altura achei-me lançando moedas ao ar para saber como estavas e o que pensavas de mim. Primeiro uma vez depois à melhor de duas e de três. Perguntava à sorte se sentias por mim algo semelhante ao que eu sentia por ti e, por fim, já só se sentias alguma coisa, se ainda sequer te lembravas de mim. As moedas obviamente nada resolviam, a não ser a temporária amargura de ter de aceitar uma verdade indesejada. Nada aconteceu. Nunca nada aconteceu nem eu fiz para que acontecesse e, no entanto, aos poucos fui ficando diferente e julgo que muito melhor. Entretanto houve aquela tarde de Dezembro e como tinha de ser a ilusão desfez-se. Caí em mim e quase senti que estava caindo no vazio, como quando de repente o chão se fende debaixo dos nossos pés durante os terramotos e nós caímos lá dentro sem sabermos se tem fundo. Nunca tinha sentido tal vertigem - confesso. Pelo menos da maneira que senti. Pois não havia absolutamente nada e absolutamente nada acontecera. E no entanto acontecera o abalo e o chão por baixo fendera-se. Como não tinha asas tentei escrever. Só que a escrita já não me segurava - o mundo dela era também etéreo, do mesmo tipo daquele que eu criara para o possível "nosso". Então resolvi rezar e pedir a Deus, ao Sol e ao Irmão Oceano que me ajudassem. O que fazer para sair dali? O que dizer-te se nada sabias? E a verdade é que todos me ajudaram. Talvez também porque a tarde já ia tão adiantada. Se nada acontecera, mesmo nada, o mínimo sinal sequer de alguma coisa, porque me apaixonara eu tão completamente por ti? Porque razão alimentara essa paixão durante tanto tempo sem que nada acontecesse ? Foi então que o Sol sorriu para mim e o Irmão Oceano agarrou os meus braços para que o ouvisse: "Será que sabes a razão porque ainda estás vivo?"  - perguntou. Finalmente fez-se luz no meu confuso espírito.  Não fora só o bem que sem saberes me tinhas feito. Esse rejuvenescimento e tal. Tu salvaras-me a vida, talvez de qualquer coisa má que sem ti podia ter acontecido e não aconteceu - o quê nem o Sol nem Deus mo disseram; eles sempre gostam de guardar segredo sobre o que podia ter sido mas não foi. Mas se me salvaste a vida sem saberes podia eu manter-te isso em segredo? Não te mostrar a mais profunda gratidão pelo que mesmo sem saberes e sem quereres fizeste? Por momentos duvidei do Sol. Teria ele já contado os meus dias até eu te conhecer e me apaixonar por ti? E se assim foi, porque razão mudou ele os seus planos para o meu destino? Perguntas também a que os deuses nunca respondem. Foi por isso que resolvi escrever-te esta carta. Mostrar-me grato, muito gentil ou dizer-te simplesmente obrigado só podia lançar sobre ti dúvidas. Obrigado de quê ou porquê - logo perguntarias. E agora já podes ficar a saber de quê e porquê. Não digo que a dor da tua "impresença" tivesse desaparecido. Não. Não desapareceu. Vai certamente demorar algum tempo até que desapareça essa espécie de mundo paralelo que criei, no qual me enredei e a ti nele sem saberes. Só que agora, com a ajuda de Deus e do Sol, já consigo ver o fundo do abismo. Mirá-lo de cima sem medo e dizer-lhe: "Não. Ainda não vai ser desta!"; "Entardeceu, é verdade, só que B. tornou-me mais novo!". A minha vida graças a ela ganhou novos pés para andar e coisas em que acreditar, pelo que nela hão-de haver ainda marés boas, e nem faltarão aqueles fogosos dias de Agosto. (Confesso até que me sinto já um nadinha apaixonado por alguém, só que desta vez se acontecer quero dizer-lhe ao início, para que o coração logo saiba e a queimar-se não arda durante tanto tempo). Quanto a ti B., minha querida, só tenho de agradecer-te por me teres salvo a vida;  por eu tê-la por ti mudado (para melhor) sem tu saberes que o fazias. Agora já sabes. Para a tua desejo também toda a sorte do mundo e mais alguma. Quem sabe se um dia não nos encontraremos para dançar? Ou até para nos abraçarmos e beijarmos finalmente como fazem os amantes? E sabes. Nunca peças desculpa pelo que não aconteceu ter acontecido. Seria absurdo. Goza a vida enquanto é tempo. E há a tua beleza. Essa que a ninguém deve desculpas, muito menos a velhos homens como eu era quando me apaixonei por ti. Até sempre minha querida!»

Ao que as esferas depois de ler se calaram, para poderem meditar.
E após a meditação concluíram: quem sabe se um pouquinho de Erotomania no macho já um pouco velhote, bem doseada como aqui parece, não pode aumentar-lhe a longevidade?

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Das humanas rosas, que por arte se fazem mais formosas XX - Ao meu querido amigo André "revolucionário"..

Há cinco anos atrás numa noite na Sociedade de Fontanelas um rapaz jovem, magro, com 1,85 de altura para aí - moreno, de barba e cabelo muito escuros, bem bonito diga-se de passagem - altercava à hora de fecho com colegas que na altura estavam com ele.  Falavam de política e todos estavam já bastante bebidos. A coisa começou a dar para o empurrão e eu, que estava com o meu amigo escultor, cheguei-me a ele e resolvi abraçá-lo. Não conhecia o André nem ele a mim mas a verdade é que o meu abraço acalmou-o, e a partir de então ficámos amigos. Carinhosamente chamei-lhe "André revolucionário", e é com esse nome que o tenho ainda gravado no meu telefone. Tinha ele então 32 anos e eu, embora mais velho, já com 53, quis conhecê-lo melhor e aprender com ele. Foram cinco anos de amizade, com lições de Surf, "aulas" de pesca submarina, carpintaria e engenharia civil - o André era engenheiro civil - e longas conversas sobre tudo e mais alguma coisa, e sobre política também. Descobri um André igualmente curioso sobre mim, disposto a acompanhar-me e interessado nas minhas opiniões. Que ele às vezes achava um pouco estranhas para alguém tão cota quanto eu. Sobretudo para alguém que ele talvez achasse tão "instalado" na vida. Fechámos muitas vezes os bares e "tascas" dos nossos arredores, e um dia ele apresentou-me a namorada, uma jovem francesa muito bela também, a condizer em tudo com ele. (Não ponho o nome dela aqui obviamente). Fui a casa deles e eles vieram à nossa. Comemos juntos inúmeras vezes e eu cheguei até a "assassinar" - por má cozinha minha - dois polvos frescos que ele um dia pescou e trouxe para eu cozinhar. Tentei recompensar o "dano". Era um rapaz tímido, generoso e muito simpático. Tal como a namorada, com quem já tinha casado entretanto. Em Março deste ano (2023) tiveram um menino, e em Julho fizeram uma festa de casamento para as famílias e amigos de ambos, e para a qual nos convidaram. Fomos e foi uma noite incrível e inesquecível. Com muita dança e alegria. Ainda por cima mesmo aqui ao lado de casa. Em Agosto, depois da festa de casamento, estivemos todos cá em casa numa tarde amena de boa conversa, petisco e, como sempre, algum vinho. O André parecia porém um nadinha nervoso. Como se alguma coisa secretamente o inquietasse. Ele amava o filho e mesmo nervoso conseguia sempre adormecê-lo nos braços dele. Era uma doçura de pessoa apesar do seu corpo jovem e forte. Depois passaram duas ou três semanas e, após algumas tentativas, finalmente atendeu-me o telefone. Tinha tido um episódio de saúde que me disse tê-lo assustado, pois tivera uma espécie de ataque que o deixara inconsciente e incapaz de mover-se. Mas - disse-me - já tinha recuperado. Após termos tentado marcar mais um encontro - a culpa foi nossa porque andámos em Setembro com outras preocupações - disseram-nos que iam passar umas breves férias aos Açores e que, quando regressassem, nos ligavam. As semanas passaram e não chegaram notícias. Liguei e o telefone dele nunca estava disponível. O meu querido amigo André tinha falecido nos Açores, com um derrame cerebral, aos 37 anos de idade, e a sua querida mulher, a viver o pesadelo, nem nos conseguiu dizer nada. Só soube da terrível notícia há pouco mais de um mês, e desde então tenho andado triste e desorientado. Eu amava o André e devia ter morrido muito antes dele. Agora penso naqueles que amo - e por quem estou estupidamente apaixonado - e apetece-me morrer rapidamente, antes que algum deles me deixe ou me morra primeiro. É triste, mas  é o que ainda sinto. Até sempre meu querido André!

Leituras do tempo DLXXXV - Why do i exist?...