sexta-feira, 15 de abril de 2016

Segunda Lua de Abril de 2016, em Magnífico Crescente de Portugal


Petrolíferas memórias... ainda bem frescas no essencial

Mohave Oil & Charity

Valdemar J. Rodrigues

Os tempos correm deformados e céleres, e os nigromantes ao serviço anunciam amanhãs que cantam, sulfurosos. No pasa nada porém tudo acontece, nos bastidores. Recrudesce o reverencial temor e a Realidade fende-se de encontro às águas. A ciência está morta: a verdade pertence aos vencedores. Ansiosamente feliz, ou triste, o povo receia a toda a hora uma espécie de holocausto. Nem repara que as notícias são como bumerangues que continuamente lhes ofuscam a visão e alteram o pensamento. A racionalidade morreu. Pelo céu circulam fadas e duendes, piratas e princesas, e nada se ousa ou estranha, pois estranho é aquilo que não se sabe, ou aquilo que já se esqueceu. Tudo se sabe e espera e tudo se guarda na infinita memória googleana: o ilusionismo é a arte maldosamente bela e eficaz que Houdini tão bem conheceu.

É certo que numa Europa minguante ainda está bem presente o afã de lutar contra o aquecimento global, razão de inúmeras taxas e ecotaxas destinadas a proteger o ambiente e a salvar o planeta da destruição causada pelos humanos. Razão também para novas portagens à entrada das cidades, ou para o agravamento das portagens que já existem. Ora, quanto valem anualmente as taxas ecológicas que recaem directamente sobre os consumidores nacionais de produtos petrolíferos, e quanto valem as licenças, taxas e compensações pagas ao Estado nacional pelas empresas exploradoras dos recursos energéticos de origem fóssil? Seria lógico que tais parcelas fossem semelhantes, pois tão responsáveis pelo aquecimento global são aqueles que consomem os combustíveis fósseis como as corporações que os exploram com licença do Estado. Mas a ilusão é a seguinte: o Estado nacional, tão “empenhado” que anda na sua luta descarbonizadora, faz de vilão e cobra a uns e a outros, como de resto faz com produtos como o tabaco e as bebidas alcoólicas. Lastimando os malefícios que causam ao clima os gases esquentadores, ou à saúde e à segurança rodoviária o fumo do tabaco e o vinho, o Estado é o principal dependente e beneficiário de tais vícios, e não parece! Bela ilusão, portanto. E a União Europeia, que vive à custa dos Estados nacionais e dos seus cidadãos, em vez de definir uma estratégia clara para a exploração dos recursos energéticos não renováveis, faz como os Estados nacionais: vive do vício porque o negócio rende, e bastante.

Volto assim à “eterna” Mohave Oil & Gas Corporation, empresa que há mais de duas décadas realiza a prospecção de gás e petróleo na região Oeste de Portugal, mas que ao fim deste tempo ainda não conseguiu organizar, que eu saiba, nenhum sítio da Internet dando conta, por exemplo, dos seus vários estudos e pesquisas, planos ou programas de actividade. Eis uma lacuna evitável, que como é óbvio em nada beneficia a transparência do projecto. Desta vez foi anunciado em Alcobaça pelo Ministro da Economia um investimento nacional de 230 milhões de euros para extrair 8 mil barris de petróleo por dia. Coisa que, fazendo as contas (a 159 litros/barril de petróleo com uma densidade média de 0,81 kg/l isso dá cerca de 1030 toneladas/dia), justifica o desencadear do necessário processo de Avaliação de Impacte Ambiental do projecto, tal como há muito venho defendendo. A questão é que nada é claro quando se vive num país de ilusões e ilusionistas, na sua maioria de fraco quilate. Como será apresentado este “projecto”? Como um todo ou em projectos parcelares, ou por fases? Quantos furos, e quando, serão testados e postos à exploração? Em que locais exactamente, com que capacidade e fazendo uso de que tecnologias (por exemplo, será ou não empregue o processo de Fracking, ou fratura hidráulica), etc, etc. O governo diz agora ter aprovado um “Plano geral de trabalhos de desenvolvimento e produção de hidrocarbonetos” que lhe terá sido apresentado pela Mohave Oil & Gas. Onde estão os pareceres técnicos da administração sobre tal plano? Irá o “plano” ser sujeito a consulta pública? Aplicar-se-lhe-á a directiva europeia de avaliação ambiental de planos e programas (vulgo avaliação ambiental estratégica)?

Tantos planos, normas, leis e regulamentações europeias e nacionais não chegam, pelos vistos, para atender às questões mais fundamentais do nosso desenvolvimento. Algo de estranho despontaria de toda esta história em torno do “ouro negro” nacional, caso ainda estivéssemos lúcidos e fizéssemos bom uso da razão. Nas fotografias da sessão de “anunciação” da coisa em Alcobaça dói ver, por exemplo, a diferença entre o semblante (e até o simples cuidado na indumentária) das autoridades políticas presentes e o dos emissários das corporações envolvidas no negócio. As primeiras curvadas, com ar solene entre o extasiado e o patético, e os segundos hirtos mas incapazes de esconder um certo ar de enfado. Por esta hora deverá andar – presume-se – o autarca alcobacense com enorme diligência a tratar de rever, mais uma vez, o seu Plano Director Municipal, ajustando-o à nova “realidade petrolífera” concelhia, realidade essa que deverá, como todos vaticinam, servir de “alavanca para o desenvolvimento local e regional” (um dia, quando recuperarmos a lucidez, vai perceber-se que já só restam alavancas na economia, nada havendo nela de “peso” para levantar). Dói, mas é o espectáculo possível e, portanto, merecido. O país infantilizado e bruto não merece mais do que fábulas com príncipes e princesas, músicas de embalar e histórias da carochinha com muitos pais natais para entreterem as criancinhas. Boa noite, e que a Mohave Oil & Gas tenha piedade de nós, e do ambiente também.

Sintra, 4 de Setembro de 2012

Publicado aqui.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

O paraíso está a ficar sobrelotado...

Há gente a mais no paraíso, conferem os analistas; quem entrou entrou, e vamos ver se tem qualidade suficiente para permanecer a bordo; quem não entrou que tivesse entrado! O navio da história parece estar cheio e com pressa de largar... oxalá não se afunde, como aconteceu ao Titanic...

Foto daqui.

sábado, 9 de abril de 2016

A "cultura" e o aquecimento global

Esta breve nota vem a propósito disto e disto , e ficou lá postado com a devida identificação da proveniência

Se o Estado tem alguma coisa a ganhar com a poluição então é porque o "povo" - aceitando o dogma indemonstrável de Estado = povo - tem alguma coisa a ganhar com a poluição. Chamemos então A a essa "alguma coisa", um benefício cujos prejuízos serão B. Então o Estado sabe que A é maior que B, pois de outra forma não haveria justificação racional para licenciar a prospecção cuja finalidade é a exploração dos hidrocarbonetos de origem fóssil responsáveis pelas alterações climáticas. A pergunta é: onde estão os Estudos técnicos que demonstram que A > B? Agora pensemos num Estado mundial seguindo este exemplo, que pelos vistos é regra e está conforme com as leis e o direito internacional, ou seja, um Estado-mundo agindo com o conhecimento de que a exploração de gás e petróleo lhe traz mais benefícios do que prejuízos, a ele que é a população mundial, segundo o notado dogma vigente. (o mesmo seria válido se pensássemos na União Europeia). Então como justificar racionalmente as políticas públicas de ambiente e de luta contra o aquecimento global? E as taxas ambientais e ecológicas que os povos do mundo crescentemente têm de suportar? Era só isto que gostaria de ver esclarecido, para que tudo o resto pudesse começar a ser melhor compreendido...

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Pérolas da "cultura" II - A (re)descoberta da roda

Afirma Pacheco:


José Pacheco Pereira, Abrupto27 Jan. 2016

Caberia ainda perguntar:

Quem é este "nós" que perdeu a independência e a soberania? A quem se refere Pacheco quando fala do povo? Ou melhor: o que entende Pacheco por povo?

Onde estava Pacheco Pereira a 12 de Junho de 1985, quando a criatura jurídica que dá pelo nome de Portugal assinou o tratado de adesão à CEE? 

Onde estava a 7 de Fevereiro de 1992 quando a referida criatura jurídica assinou O Tratado de Maastricht que deu à luz a criatura jurídica maior da União Europeia? 

Por onde andava Pacheco a 13 de Dezembro de 2007 quando a mesma criatura assinou o Tratado de Lisboa? 

E a 2 de março de 2012, quando a mesmíssima criatura assinou o Tratado sobre a Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária (TECG), vulgo tratado orçamental ou tratado da austeridade para o "povo"? 

O que saberá o dito "povo" de direito internacional, de direito europeu ou sequer de teoria do direito em geral, para ser responsabilizado pelas assinaturas em seu nome feitas pela criatura iluminada? Ou pelas dívidas que ela em seu nome contraiu? 

Será o "povo" tão responsável quanto os "pastores" iluminados que o levaram ao deserto com promessas de oásis? 

Será o "povo" tão responsável quanto as criaturas iluminadas que em seu nome negociaram e redigiram as constituições e os tratados? 

Pacheco Pereira tem contudo o grande mérito, que merece toda a minha consideração, de dizer o que pensa e como pensa. São muito raros os que o fazem com honestidade e sabedoria, e é isso sem dúvida que o diferencia da maioria dos comentadores políticos. Agora que redescobriu a roda, talvez ele me possa ajudar a compreender melhor a essência do véu que há milénios encobre a criatura, tal como o misterioso mecanismo que a faz mover e a leva a tomar decisões por mim sem o meu consentimento. A história da representatividade deve estar mal contada...

domingo, 3 de abril de 2016

Pérolas da "cultura" I: o desdobramento do Conceito

I. Roubo
II. Furto
III. Desvio
IV. Apropriação indevida
V. Enriquecimento ilícito
VI. Acréscimo patrimonial não justificado
VII. ...

I. Miséria
II. Pobreza
III. Pobreza absoluta
IV. Carência económica
V. Privação material severa
VI...

Dogmas da Fé Económica I - A Mão Invisível

Mão invisível: dogma da fé económica segundo o qual a geração de riqueza só é possível dando trabalho e pagando a empregados, o que assegura a justa distribuição da referida riqueza.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Série Grandes Mestres - António Manuel Ribeiro e UHF ao início...

Série Grandes Mestres - Xana e Rádio Macau

A voz de fundo da "cultura": Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti...

«Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é?»

José Mário Branco, FMI, que talvez não soubesse exactamente o que estava a dizer quando disse o que disse...

quarta-feira, 30 de março de 2016

O ser ou não ser da questão angolana

Eis a questão: Angola é ou não é um Estado de direito? Tal como o Estado Novo o foi, e tal como ele constitucional e soberano?

Não terão todas, ou pelo menos quase todas as ditaduras acontecido em Estados de direito?

Não era a Alemanha do III Reich um Estado de direito?

Haverá porventura alguma coisa de errado no Estado de direito? Ou melhor: será possível algum Estado que não seja Estado de direito, e em caso negativo haverá então alguma coisa de errado na próprio conceito de Estado?

E se as respostas forem que é possível um Estado de não direito e que, por exemplo, Angola não é um verdadeiro Estado de direito, que direito será aquele que os juízes e magistrados diariamente nesses países se empenham em aplicar? Será um direito torto ou distorcido? E que nome dar então àqueles que o aplicam? Inconscientes? Loucos? Será que a irresponsabilidade das decisões dos juízes significa o mesmo que não estar consciente delas e das suas consequências para as pessoas reais e concretas?


Foto: aqui

segunda-feira, 21 de março de 2016

A Minha Moral

Este silêncio magnânimo em que o nada se ouve e se diz de nada, 
e porque nada. 
A minha moral ao espelho é a minha neurose.
Obrigado.

A imagem, bem ou mal, veio daqui