segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Diário da minha vida digital - II

Disse-me um colega robô: eu não penso, computo! E eu, recursivo, respondi-lhe: tu computas e eu por compilar.

Diário da minha vida digital - I

Ainda defeco. Ou seja, ainda sinto ao defecar que as fezes são reais. Que ao querer libertá-las elas existem independentemente da minha vontade ou da de alguém. Existem por assim dizer independentemente da vontade ou do desejo da mente, ou do espírito. Embora preferisse que não fosse assim, digamos que as fezes existem por si, materialmente, sem que a força do meu algoritmo as detenha. Sei que defeco, e que ao defecar penso nas fezes, e, logo, existo. Tudo pode ser já fruto do algoritmo, ou da vacina, mas a verdade é que ainda sinto.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Um pouco de psiconomia: anti-silogismo sobre a taxa de juro negativa

Apresento o seguinte anti-silogismo em resposta a estoutro, liberal, sobre a taxa de juro negativa: a) a taxa de juro é o preço de um empréstimo; ora b) não existem preços negativos mas existem taxas de juro negativas, logo c) a taxa de juro não pode ser o preço de um empréstimo.

A economia foi uma ciência de administração da casa; uma ciência da repartição e da contagem e, portanto, matemática. O psicologismo, nomeadamente de Stuart-Mill, psicologizou-a definitivamente, e Marx nada pôde fazer em relação a isso. Em vez dela nasceu a psiconomia, mas os "economistas" para manterem a "objectividade científica" continuam a dar-lhe o nome antigo. Aconteceu o mesmo aos vendedores de "bacalhau". Agora aguentem-se.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Esclarecimento aos endividados da Terra

As dívidas às pessoas e entidades boas, ou prossecutoras do bem universal e absoluto, JAMAIS prescrevem. O Estado é Deus, e as Empresas-Estados também. A única hipótese seria comprar Deus. Será que tens dinheiro para isso? O dinheiro que é milagre estatal-divino? Então juizinho mas é. Muito juizinho. E paga mas é o que deves.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Do ser bovinamente feliz...

...aqui ou em qualquer outra "paróquia" da cultura ... que já são perto de duzentas... acreditando em que «O bolo deixa de ter limites, mas as fatias continuam do mesmo tamanho.» e outros milagres que tais. É assim há, pelo menos, 3500 anos!

Não é de admirar a escassez de humanos inteiros. É tudo peça de engrenagem, ou pior do que isso.

sábado, 23 de dezembro de 2017

Da moral urbana

Toda a moral é urbana, na medida em que nasce e se desenvolve com a cidade. Os cuidadores da moral urbana chamam-se moralistas. Os homens de leis - juízes e legisladores - por muito que se esforcem e tentem não ser, são, por definição, moralistas; são cuidadores da moral pública e da (imoral) moral de Estado. Dentro do juiz-legislador habita um sacerdote e um carrasco e, dentro do sacerdote, grassa a tempestade moral: as coisas e os homens não são como deviam ser! A moral urbana teve e continua a ter muitas fontes: mandamentos divinos, costumes, tra(d)ições, ditames da razão (do intelecto), leis da natureza, etc. Hoje à moral urbana chama-se "politicamente correcto" e, desde a "última vez", não tinha sido tão difusa, geral e penetrante. Sabemos perfeitamente o que isso significa, e aonde isso leva. Um Feliz Natal para todos.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Em que estás a pensar?

Em que, meu caro espião, seguindo a lógica do advogado, de cada vez que o incêndio fosse maior, ou mais destrutivo, ou de cada vez que a doença fosse mais epidémica ou grave, ou de cada vez que a criminalidade fosse mais geral ou violenta, os honorários do bombeiro, do médico e do polícia, "respetivamente", deviam aumentar proporcionalmente. Quem é pois que dá o exemplo?

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

As artes necessárias

A arte são artes, e nenhuma arte sobrevive ao falecimento de outra arte. As artes nascem e falecem conjuntamente. Então porque não perguntam os entrevistadores, de António Lobo Antunes por exemplo, aos autores - no caso de imortais livros - também sobre música e pintura, por exemplo? Aí está: provavelmente a arte, tal como a ciência e a religião, chegaram (de novo) ao fim. E o fim é sempre um novo começo. Nietzsche, melhor do que ninguém, percebeu a coisa. .

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Mais um subsídio para a "história municipal" que o sr. Fleming de Oliveira não quer contar

Ainda Cós, no período marcelista, e o "activismo radical" do «panfletário, acintoso e azedo» José Barbosa Rodrigues, meu pai, no dizer ressentido do "historiador municipal", advogado camarário e fundador do PPD/PSD, o sr. Fleming de Oliveira (FO), de nome próprio Fernando José Ferreira.

Cena: Últimas "eleições" para a junta de freguesia de Cós antes do 25 de Abril de 1974, cujo vencedor foi o meu pai, José Barbosa Rodrigues

Durante o Estado Novo havia "eleições", nomeadamente para as juntas de freguesia. O regedor, à época dos factos, era Joaquim Fialho, nomeado pelo presidente da câmara Tarcísio Trindade e directamente dependente dele. Contados os votos (dos "chefes de família") o vencedor foi... o «anti-clerical» e revolucionário José Barbosa Rodrigues, «anti-clerical» e revolucionário no "enviesado" entender "histórico" do "historiador municipal" de Alcobaça, FO. O "perdedor" havia sido o sr. Levi, que se não era cabo de polícia era, pelo menos, agente da Polícia de Segurança Pública, um homem à altura residente na Póvoa (de Cós). Gerado o "pânico" na pacata aldeia onde até então reinara a paz dos cemitérios, como resolver a situação? Ora, "descarregando" votos de não votantes para dar a vitória ao sr. Levi, homem do regime que o regime tinha na mão. Porém, a estratégia não foi do agrado de Joaquim Fialho, homem honesto para quem uma "eleição" era, afinal, uma "eleição". Se José Barbosa tinha sido eleito então ele que fosse o presidente. Joaquim Fialho terá achado mal a falsificação dos resultados, coisa à época pelos visto frequente, e, portanto, não ajudou a sanear a "crise". É então que Tarcício Trindade, incomodado com esta pequena chatice numa freguesia habitualmente tão serena, manda chamar ao seu gabinete o meu pai e o sr. Levi. Aí, muito "democraticamente", pede ao meu pai que abdique a favor de Levi. Fá-lo em tom de ameaça. O meu pai, jovem e inexperiente, teve então medo e, salvaguardando a "paz podre da freguesia", onde cabia o magro mas, ainda assim, seguro, "subsídio financeiro municipal" que Tarcício pôs pendente, decidiu abdicar, aceitando a proposta de Tarcísio de ficar não como presidente mas como... secretário da junta. O terrível "agitador social" agindo a mando de perigosas forças "anti-clericais" da "oposição", aceitava assim submeter-se às... "forças do bem" e do "progresso municipal" que estavam, e continuaram a estar pelo menos até 1976, ao leme da política municipal. É claro que a "história" que o "historiador municipal" FO quer contar, e quer que fique registada como "verdade histórica", tem muito que se incomodar com pequenas nódoas e episódios nada "democráticos" como este. É certo que o "rolo compressor" da "história" tudo alisa, para que tudo depois pareça limpo e claro. Mas enquanto houver gente viva com memória o "rolo compressor da história" vai ter dificuldade em passar; porque tem de passar por cima dela; foi aliás sempre assim que aconteceu, pelo menos desde o tempo do Moisés. Acima de tudo tenho muito orgulho do meu pai e, ainda que a vida a tivesse levado de nós tão cedo, da minha querida mãe. Ninguém há-de pisar incolumemente a sua história enquanto viver.

Valdemar José Correia Barbosa Rodrigues
20 de Novembro de 2017

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Sobre o “historiador municipal” Fleming de Oliveira

Sobre o “historiador municipal”
Fleming de Oliveira, de Alcobaça

Só tardiamente tive notícia da obra de Fleming de Oliveira (FO) enquanto “historiador” na área de história contemporânea de Alcobaça. FO publicou, nessa cidade e nos últimos anos, dois livros sobre a «vida na sociedade civil de Alcobaça por alturas de 1974» e, tanto quanto sei, irá lançar, este mês e na mesma cidade, um «dicionário de alcobacenses». 

   Como declaração de interesses, não tenho nem nunca tive qualquer tipo de relações pessoais, de amizade ou negócios, com FO ou membros da sua família. E não tendo nem vocação nem qualificações para a “ciência histérica”, e menos ainda para a análise crítica historiográfica – algo que FO, ao que sei, também não tem – estou à vontade para avaliar a qualidade de trabalhos escritos, com a pretensão de registos da “verdade histórica”, sobre factos e acontecimentos que, em parte pelo menos, também presenciei ou vivi, relativos à terra e a pessoas que bem conheci, como foi o caso do meu pai, José Barbosa Rodrigues, o «panfletário, acintoso e azedo» “correspondente” da imprensa da esquerda revolucionária (O jornal Voz de Alcobaça) no dizer espinhoso e traumatizado de FO – traumatizado com essas “conquistas de Abril” que foram, entre outras, as da liberdade de reunião e expressão. 

   Entre os factos dignos de “registo histórico” depreciativo FO “acusa” o meu pai de ter mobilizado, por alturas de 1974-76, as gentes da freguesia para a limpeza das ruas e da escola de Cós, e por ter tido um papel activo no movimento local que pedia a expulsão do padre Manuel da paróquia de Cós-Maiorga. Fá-lo ressentido, qual juiz que, sem se dignar analisar e descrever os factos, e sem ouvir as testemunhas (FO por exemplo jamais me contactou), passa directamente à sentença: o meu pai era arruaceiro, um anti-clerical e desprezível agitador social. O dizer simples (e de péssima redacção) do “historiador municipal” não esconde a ira: o meu pai, e os demais “agitadores” da “paz social” das aldeias pré-25 de Abril, eram peste que viera ao mundo. 

Já, por exemplo, sobre a história da última eleição para a junta de freguesia de Cós antes do 25 de Abril, cujo vencedor foi o meu pai, FO não diz palavra. Não fala da pressão que ele sofreu, da parte de Tarcísio Trindade, para abdicar a favor do concorrente, o que acabou por fazer para não prejudicar a freguesia. Era ele um tal Levi, homem do regime residente na Póvoa de Cós, a quem, pelo menos até Abril de 1974, o meu pai assessorou enquanto secretário da junta de freguesia. O “juiz” condena o meu pai pelo “crime” de «anti-clericalismo» mas não acha digno de menção o porquê de, à época, muita gente de Maiorga e Cós pedir a demissão do padre: a recusa do baptismo a crianças cujos pais não fossem à missa. Em Cós o salão paroquial onde a minha mãe (que viria a falecer em 1978) durante anos se empenhara na realização de espectáculos e iniciativas várias de índole cultural, o padre Manuel encerrou-o após o 25 de Abril. Até seria justíssimo dizer que, se tinha havido durante o marcelismo alguma vida cultural em Cós, isso se deveu em grande parte ao esforço da minha mãe, Maria Manuela Roxo Correia, tal como, é certo, à paróquia que abrira as portas do salão às iniciativas da comunidade. É óbvio que esquecer estes factos da história e acusar as pessoas de “anti-clericalismo” é errado; é tomar a parte pelo todo, algo típico de gente pouco instruída ou ignorante. O “crime” de mobilização da sociedade para a limpeza das ruas e da escola primária (cujas condições eram miseráveis) desmerece, evidentemente, qualquer comentário.

Sobre o “activismo social” do meu pai FO esquece que foi graças a ele, mais a um pequeno punhado de “perigosos activistas”, entre os quais a minha mãe, que a colectividade local veio-a-ser, e o seu leitmotiv foi, originariamente, a decisão do padre Manuel de encerrar o salão paroquial. Assim nasceu a Associação desportiva e cultural de Cós” que ainda hoje lá está. Para uma mente lúcida interessada em conhecer e, sobretudo, em dar a conhecer a historia local, é óbvio que estes “métodos” de investigação e “esquecimentos” são suspeitos; eu digo: não são nem ingénuos nem acidentais. Triste é que alguém um dia venha a dar crédito a uma “história” contada assim.

A título pessoal, o retrato que FO apresenta do meu pai é ofensivo e moralmente danoso. Sei que de pouco serve pedir-lhe que publicamente se retrate pelo que escreveu e publicou. Resta-me, para mal dos meus pecados, estar mais atento para não deixar passar mais nenhum texto deste “historiador municipal” em vão, para que os leitores possam conhecer melhor a “mecânica” do revisionismo histórico, algo em que o regime de Stalin foi exímio.

17 de Novembro de 2017


1cf. flemingdeoliveira.blogspot.com/


2e.g. http://flemingdeoliveira.blogspot.pt/2011/10/i-vida-na-sociedade-civil-de-alcobaca.html

Fonte: Região de Cister, Ed. de 30 de Nivembro de 2017

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Da cidade (naturalmente) dividida

 Em comentário ao texto de Vitor Bento Sobre a Web Summit, aqui, escrevi assim:

«Advogados, médicos, financeiros (é engraçado não ter posto economistas, será por ser economista que o fez?), professores, arquitectos, etc. E porque não juízes. padres, políticos, legisladores, militares, polícias, bombeiros, etc? O "super-homem biónico" não é coisa nova; quem pode há muito que se "entrelaçou" com a técnica; que usa, por exemplo, próteses dentárias, pacemakers, membros artificiais, insulina biotecnologicamente produzida, etc. E há até aqueles que se multiplicam, vivem várias vidas, mudam de rosto, identidade, etc. Ver a grandes distânias, ou na escuridão, ou ter uma memória googleana pode ser, para o indivíduo, uma inovação, mas não para o grande colectivo de indivíduos, para a grande empresa ou para o estado que são, ou pelo menos ambicionam ser, à maneira de Deus e, como os deuses, imortais (veja-se a letra do hino: «...nação valente e imortal»). Agora essa de o Facebook conhecer melhor o sr. Vitor Bento do que os seus amigos e família é, no mínimo, constatação de um problema ou ideia fantástica! Problema da sociedade - a anomia e o crescente isolamento dos indivíduos na multidão e no meio de tanta possibilidade de comunicação, talvez - ou ideia à qual subjaz a velhíssima convicção de uma cultura a que o esquecido Spengler chamava de fáustica: a de que o ser humano chegaria ao ponto de se auto-produzir. Ideia velha portanto, cujo grande crítico foi e continua ainda a ser o mestre Agostinho de Hipona, crítico do modo de ser maniqueu. Os maniqueus, tal como os inquisidores (medievais e modernos) e os nazis, continuam por aí, vivos e de boa saúde. O que esqueceram da humanidade foi algo que os antigos gregos bem conheciam e que tomavam por máximas da sua vida: o "nada em excesso" - este nada é mesmo nada, nem sequer o amor ou a verdade em excesso são oisas boas! - e o socrático "conhece-te a ti mesmo", melhor do que qualquer Google, ou do que qualquer estado. A técnica, essa, é certo que não tem culpa nenhuma. Parece-me profundamente errado o sr. Vitor Bento falar de um "super-homem biónico" como se ele fosse de outra espécie humana; como se a sua causa, técnica, não fosse afinal tão-só e profundamente humana, fruto dessa velha cultura fáustica do Ocidente. Falar assim, com esse à-vontade e com esse sentido (a)crítico, faz até pensar no renascimento do sonho nazi de naturalzação da política e do fenómeno político, hoje resplandecente na chamada biopolítica. Será que é de biopolítica que se trata quando sugere o domínio de uma espécie de humanos por outra espécie de humanos, biónica ou cyborg, à qual a primeira, a "actual espécie humana" haveria "naturalmente" de submeter-se? Estou em crer e espero, sinceramente, que não. Até porque acredito no lema da minha "alma mater": omnis civitas contra se divisa non stabit. A "cidade" dividida, composta já não de uma mas de duas "humanidades", acabaria por desaparecer da face da Terra.»

Valdemar J. Rodrigues,  10-11-2017

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Mais sobre a "justiça" das repúblicas (e impérios) de advogados

«A explicação é, talvez, demasiado simples, mas para isso é preciso compreender um pouco da lógica industrial agropecuária. Nas "repúblicas de advogados" (neste caso, nos "impérios de advogados") primeiro há que deixar "engordar" bem as reses; dá-se-lhes boas jus-vitaminas e jurisprudenciais suplementos de "engenharia financeira" que as ajudam a engordar. Quando elas já estão bem gordinhas, usam-se técnicas várias de boato e "fuga de informação privilegiada" (vulgo, de bufaria) para as "abater", isto ao mesmo tempo que se vai junto delas em "auxílio". É uma "cura jurídica" de emagrecimento; uma "morte" lenta, suave e sempre juridicamente bem acompanhada. No final, dependendo da "proteína" disponível, as reses escanzeladas talvez escapem à crueldade do espigão... As vítimas - se as houver de facto, e muitas vezes há-as - recebem a publicidade e o "carinho" das multidões, e fruem desse sentimento de vingança que Homero dizia ser, de todos, o mais doce. A "justiça" corresponde então a isso simplesmente: à "transformação criativa" do produto e das rendas do crime em "justos" honorários de advogados, tal como em taxas e custas processuais da dita...»

Valdemar Rodrigues, 3 de Novembro de 2017, comentado aqui.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

La llibertat no té bandera ...

e
se um estado incomoda muita gente,
dois estados incomodam muito mais!

Foto: daqui (mas sem nenhuma afiliação ideológica... esses são ainda dos que precisam de mais do que um pai...)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Nota sobre o "Rendimento Básico Incondicional"

Para registo, e memória futura enquanto a parceria Google/"estado português" deixar, fica aqui o comentário que fiz ao artigo, no Jornal Económico, de Ricardo Sant' Ana Moreira, intitulado: Rendimento Básico Incondicional: receber dinheiro por existir é uma boa ideia?

«Estimado colunista. O texto é de facto longo e a argumentação crítica ao tal RBI pedia mais do que um comentário necessariamente breve, ou pelo menos não demasiado longo. Fica para outra altura. Só gostaria de lhe lembrar uma coisa e de lhe dar a minha singela opinião sobre o que escreveu em geral. A lembrança é: quando diz que «muitas atividades que não são consideradas trabalho, como as artes ou o envolvimento social» devia notar que há actividades bem conhecidas, como a de professor, que não são consideradas "trabalho" à luz do código do trabalho, um produto do "estado social" baseado no tal "direito ao trabalho" que defende. Basta que, no caso das universidades, nao haja "subordinação jurídica", ou que haja um "contrato de docência" que, à luz do "direito do trabalho", não é um "contrato de trabalho", não existindo portanto o tal "vínculo laboral" que caracteriza a relação laboral, e que faz do "colaborador" "trabalhador". Há neste país muita gente cuja actividade não é considerada "trabalho", e não são apenas os servilços domésticos ou o trato de familiares idosos; há até - para seu espanto talvez - universidades que, simplesmente, funcionam mas não têm trabalhadores! Além disso, porque o seu artigo confunde "trabalho" e "emprego", refere o "pleno emprego" sem cuidar de ver a "engenharia jurídico-estatística": para se estar empregado basta, por exemplo, "trabalhar" 3 horas semanais... quero eu dizer, em síntese, que o "direito ao trabalho" e o "pleno emprego" aos quais tanto se agarra são já puras miragens, talvez de um passado económico difícil de esquecer...
A minha opinião sobre o que aqui escreveu começa por ser a de que a sua análise está enviesada, como aliás não esconde. Por exemplo, diz que «A forma pura do RBI» é a «original e liberal» e toma-a como base de referência do seu prognóstico de falência do "estado social". Antes havia dito que «liberdade é decidirmos em conjunto, em democracia, como decidimos gastar a riqueza que produzimos enquanto sociedade»... Faz contas à medida mas simplifica demasiado o problema. E não esclarece como as fez. Tomando um PIB a rondar os 200 mil milhões de euros, como fez a conta para chegar aos 21,6% do PIB ou seja, a cerca de 43 mil milhões de euros? Valor que, dividido pelos 300 euros "por pessoa", vezes 14 meses (?), que sugere, resulta num "universo" de 10,5 milhões de pessoas a abranger pela medida! - certo, ou será que estou a fazer mal as contas? Parece-me, à primeira vista, demasiada gente, e porque razão considera na conta os actuais pensionistas, que já têm, por natureza por assim dizer, um "RBI", em muitos casos muito mais do que "B"?... Fala ainda dos 22% do PIB que o estado português arrecada em impostos; pergunto: directos, indirectos ou ambos? E já agora, porque fala de um «RBI à portuguesa» quando o Portugal é memblo de pleno direito da UE? Porque ignora a dimensão europeia nesta análise sobre um problema que é de todos os ditos europeus? Porque não se pergunta, por exemplo, "O que será que o PIB de Portugal tem que faça dele, com autenticidade e certeza, um "PIB português", ou "nacional" como dizem?
Não vou alongar-me muito mais. Não tenho opinião formada sobre o assunto, que merecia ser discutido a nível europeu e não apenas local ou "nacional"... Uma discussão em liberdade, como bem diz, pois a todos afectará; e sem os fantasmas da ideologia ou da crença cega nos ditos "mercados".... que só funcionam como funcionam porque o tal "estado social" de que fala aprovou as leis e os acordos internacionais que lhes permitem fazer o que fazem, bem e mal está-se em ver, porque, creio eu, o bem e o mal nunca são puros, i.e., andam sempre de mão dada... Haveria que ver em particular a situação das famílias com crianças, dos pensionistas, etc. etc. etc. Um debate que, por estar à partida enviesado (como se explica, por exemplo, e a quem realmente interessa, que um "trabalhador" normal tenha hoje de trabalhar mais horas por ano do que um camponês na Idade Média?!) , corre o risco de nunca vir a acontecer.
Um abraço, e obrigado por me ter dado esta oportunidade para reflectir sobre o assunto e para manifestar sobre ele algumas das minhas dúvidas.»

NOTA: Este texto/comentário desapareceu misteriosamente da caixa de comentários do dito "jornal económico". Por acaso tinha-o gravado, como sempre faço não vá o diabo tecê-las. Por duas vezes voltei a pô-lo lá e por duas vezes ele voltou a desaparecer. Convluí o que não podia ter deixado de concluir: é a "liberdade de expressão" no seu melhor... Pelo contrário, os comentários violentos e xenófobos que por lá andavam por lá continuam a andar alegremente, sem qualquer rasura ou censura... Deve ter a ver com a estratégia agressiva da "corporate governance" do grupo de me(r)dia a que o jornal pertence... Face a isto, o que dizer? Puta que o pariu, obviamente!