segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Mais um subsídio para a "história municipal" que o sr. Fleming de Oliveira não quer contar

Ainda Cós, no período marcelista, e o "activismo radical" do «panfletário, acintoso e azedo» José Barbosa Rodrigues, meu pai, no dizer ressentido do "historiador municipal", advogado camarário e fundador do PPD/PSD, o sr. Fleming de Oliveira (FO), de nome próprio Fernando José Ferreira.

Cena: Últimas "eleições" para a junta de freguesia de Cós antes do 25 de Abril de 1974, cujo vencedor foi o meu pai, José Barbosa Rodrigues

Durante o Estado Novo havia "eleições", nomeadamente para as juntas de freguesia. O regedor, à época dos factos, era Joaquim Fialho, nomeado pelo presidente da câmara Tarcísio Trindade e directamente dependente dele. Contados os votos (dos "chefes de família") o vencedor foi... o «anti-clerical» e revolucionário José Barbosa Rodrigues, «anti-clerical» e revolucionário no "enviesado" entender "histórico" do "historiador municipal" de Alcobaça, FO. O "perdedor" havia sido o sr. Levi, que se não era cabo de polícia era, pelo menos, agente da Polícia de Segurança Pública, um homem à altura residente na Póvoa (de Cós). Gerado o "pânico" na pacata aldeia onde até então reinara a paz dos cemitérios, como resolver a situação? Ora, "descarregando" votos de não votantes para dar a vitória ao sr. Levi, homem do regime que o regime tinha na mão. Porém, a estratégia não foi do agrado de Joaquim Fialho, homem honesto para quem uma "eleição" era, afinal, uma "eleição". Se José Barbosa tinha sido eleito então ele que fosse o presidente. Joaquim Fialho terá achado mal a falsificação dos resultados, coisa à época pelos visto frequente, e, portanto, não ajudou a sanear a "crise". É então que Tarcício Trindade, incomodado com esta pequena chatice numa freguesia habitualmente tão serena, manda chamar ao seu gabinete o meu pai e o sr. Levi. Aí, muito "democraticamente", pede ao meu pai que abdique a favor de Levi. Fá-lo em tom de ameaça. O meu pai, jovem e inexperiente, teve então medo e, salvaguardando a "paz podre da freguesia", onde cabia o magro mas, ainda assim, seguro, "subsídio financeiro municipal" que Tarcício pôs pendente, decidiu abdicar, aceitando a proposta de Tarcísio de ficar não como presidente mas como... secretário da junta. O terrível "agitador social" agindo a mando de perigosas forças "anti-clericais" da "oposição", aceitava assim submeter-se às... "forças do bem" e do "progresso municipal" que estavam, e continuaram a estar pelo menos até 1976, ao leme da política municipal. É claro que a "história" que o "historiador municipal" FO quer contar, e quer que fique registada como "verdade histórica", tem muito que se incomodar com pequenas nódoas e episódios nada "democráticos" como este. É certo que o "rolo compressor" da "história" tudo alisa, para que tudo depois pareça limpo e claro. Mas enquanto houver gente viva com memória o "rolo compressor da história" vai ter dificuldade em passar; porque tem de passar por cima dela; foi aliás sempre assim que aconteceu, pelo menos desde o tempo do Moisés. Acima de tudo tenho muito orgulho do meu pai e, ainda que a vida a tivesse levado de nós tão cedo, da minha querida mãe. Ninguém há-de pisar incolumemente a sua história enquanto viver.

Valdemar José Correia Barbosa Rodrigues
20 de Novembro de 2017

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