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sábado, 7 de dezembro de 2019
Do patriotismo
Julgo que o patriotismo é essencialmente racista. E porquê? Ora, não é só a ideia de pátria enquanto filhos de um mesmo pai; é também a ideia de que há várias humanidades. Se todos os humanos são filhos do mesmo pai, que é Deus, então o patriota é filho espiritual de um deus menor, de um "deus mortal" como Hobbes lhe chamou, desse representado pelo temporal "papa" ou "chefe de estado". Os textos sagrados são aliás muito claros em relação ao servir a mais do que um deus, mas para simplificar a coisa pede-se aos "patriotas portugueses" que respondam à seguinte pergunta: Poderão os chineses, cabo-verdianos, brasileiros, etc. a quem o estado português concedeu a nacionalidade portuguesa ser "patriotas portugueses" ou não? Ora, eu, por razões muito diferentes dos defensores de um patriotismo puro e (supostamente) não racial, também acho que não. Que são iguais a mim e a qualquer ser humano disso não tenho a menor dúvida, pois creio que todos somos filhos do mesmo criador que é "pai" e intemporal, mas chamar-lhes "patriotas portugueses" é dizer que o estado português é "pai", o que para mim é absolutamente falso. Temporal ou biologicamente falando eu tenho (ou melhor, tive) um só pai, que foi o meu pai, e além desse tenho um pai intemporal e transcendente, um pai espiritual que é Verdade e que nenhuma imanência humana pode tentar reproduzir ou sequer compreender, sob pena de grave heresia. Sei que a própria Igreja de Roma, e as Igrejas das religiões históricas em geral, há muito consentem nessa grande heresia - a maior que pode haver - através de dogmas eclesiásticos como esse já muito antigo do papa romano qua "vicário de Cristo na Terra" que, quanto a mim, destruiu a essência do Cristianismo, não obstante o grato que foi para os pastores de "gado humano" do tipo platónico-idealista que há muito proliferam, em especial nesse que veio a ser o chamado "sistema de justiça". Daí que reabilitar o patriotismo - o Deus, pátria e família do dr. Salazar - seja outra forma de reabilitar o nacionalismo e, consequentemente, o racismo, esse que historicamente une todos os socialismos, incluindo o histórico socialismo católico, e cuja cíclica tesão económica parece inevitável - chamou-se-lhe nazismo da mesma maneira que poderia ter-se-lhe chamado holocausto humano para glória e salvação dos "puros" ou "imaculados"... desses afinal que Martinho Lutero tanto procurava ter na sua reformada Igreja...
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