quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Morrer é só não ser visto

A morte é a curva da estrada ´

A morte é a curva da estrada, 
Morrer é só não ser visto. 
Se escuto, eu te oiço a passada 
Existir como eu existo. 

A terra é feita de céu. 
A mentira não tem ninho. 
Nunca ninguém se perdeu. 
Tudo é verdade e caminho. 

Fernando Pessoa
Fonte: Arquivo Pessoa

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Clarice Lispector

«Se eu tivesse que me esforçar para te escrever ia ficar tão triste. Às vezes não aguento a força da inspiração. Então pinto abafado. É tão bom que as coisas não dependam de mim.»
 
Clarice Lispector, Água Viva. 1973
 
Clarice Lispector (1920-1977). Foto: picada aqui
 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Lição de economia

Para haver crescimento e emprego é preciso que haja economia. Mas para haver economia tem de haver produção e consumo ou seja, consumo de rcursos naturais e produção de entropia no sistema eccológico-económico. A questão não é se vamos ou não explorar e poluir a natureza: é quanto e como vamos fazê-lo para conseguir manter um dado nível de crescimento e emprego.

Fonte: picado aqui

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O novo mito de Sísifo

Tem o homem, a montanha e a pedra que deixou de ser como a pedra: tornou-se como a bola de neve que aumenta ao subir e ao descer a montanha. O homem que insiste em empurrá-la para o cimo é o novo homem: o homem da singularidade ou do absurdo exponencial. 


Fonte:picado aqui.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ZIKA... Uma Charada de Inverno no Hemisfério Boreal

Exercício de engenharia: Com as treze palavras ou expressões abaixo indicadas tente construir uma frase com sentido:
Zika
Campo de concentração
Microcefalia
Eutanásia
Lei
Urgência
Socialismo
Mega-hospitais e grandes centros hospitalares
Arquitectura
Descarbonização
Nazismo global
Rede transeuropeia
Logística.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Definições...

Democracia liberal: sistema de governo onde cada um é livre de escolher o socialismo que quiser.

domingo, 13 de setembro de 2015

Uma leitura pré-eleitoral, condenada a estar sempre actual! No fundo, somos como aquele hamster que corre, corre, corre... e nunca sai do mesmo sítio...

O Carrossel Popular

No carrossel, as crianças alegres e pegajosas de algodão doce entretêm-se rodando em volta do eixo. Entusiasmadas, experimentam o potro malhado, a girafa africana, o avião e a furgoneta e, depois das voltas que o dinheiro consente, vão-se embora azamboadas e algo tristes pelo fim da festa. A democracia ‒ o modelo de governo que mais responsabilidade exige aos cidadãos ‒ tende com o tempo a transformar-se num grande carrossel popular onde os bonecos de assento fazem as vezes dos políticos, os folgazões são as bases populares, a música os media de massas, e o maquinismo é controlado por alguma personagem mefistotélica que se esconde atrás das cabines, não vá a ilusão desfazer-se! Apesar de muitos cidadãos preferirem a roda gigante ou o canguru do amor, e de alguns se esquivarem furtivos ao monótono entretenimento, o carrossel gira e gira e gira e gira, provando que existe sempre uma maioria popular que se diverte. Ao fim de mil rodopios, o pior acontece quando falha a electricidade ou ‒ azar dos azares ‒ quando o preço dos bilhetes aumenta para além das posses populares, algo que gera nas pobres gentes insofreáveis dores e desconsolos, pois os malandros dos políticos viajam sempre sem pagar, agarrados ao carrossel de traseiro tremido mesmo quando já só restam dois ou três pagantes montados neles. Assim é nas crises em democracia, as quais podem servir de bálsamo ao povo se, claro está, ele conseguir chegar ao fundo do problema, que é o seguinte: para quê andar estupidamente em círculos num cavalo de madeira quando se pode ter um cavalo a sério capaz de nos levar aonde queremos? A reflexão especulativa – essa fonte de claridade que ilumina e esclarece o espírito – podia desta forma trazer grandes benefícios ao povo, e fá-lo-ia talvez questionar-se: e afinal, para onde é que realmente queremos ir? Depois de algum tempo de meditação e justa ponderação, poderá até o povo ser levado a indagar sobre delicadas questões práticas, do tipo: porque razão tem ele, para poder exercer na sociedade uma profissão, de sujeitar-se a rigorosas provas e contínuas avaliações, e de possuir formações especializadas, aptidões “culturais” mínimas onde se inclui o domínio da língua do Estado em que estão, a fluência em língua inglesa – a língua “universal” da ciência e da técnica modernas – e a indispensável proficiência no uso das TIC, isto quando para o exercício da profissão de político, métier de enorme responsabilidade pois envolve a tomada de decisões que afectam o bem-estar presente e futuro de todos, nada disso é exigido? Porque razão não se exigem a um presidente de junta, a um membro da assembleia de freguesia, a um candidato à câmara municipal ou a ao parlamento, no mínimo semelhantes avaliações e qualificações? E a prestação de provas públicas para avaliar da sua “cultura geral” e capacidade técnica para administrar a fazenda pública? Alguns, ainda incrédulos e meio aturdidos pelo baque da claridade, poderão alegar que a função política não corresponde a uma actividade profissional no seu sentido comum ou habitual. Fraco argumento entenda-se, pois o amadorismo político podia bem ser a causa da "crise", mas jamais seu remédio. A questão é: o que teria afinal a sociedade a perder com um escrutínio destes? Acaso serão as pessoas mais inteligentes e cultas da sociedade também as mais propensas à corrupção ou ao desmazelo? Mas eis que de novo as luzes acendem, a economia volta a “crescer” e anunciam-se novas promoções (uma corrida grátis a cada duas pagas!) e o carrossel volta a girar. Lá para o Outono, pelo cair da folha, haverá “mudança” de assentos. Ao potro malhado sucederá um esbelto potro de crinas doiradas, e a furgoneta será substituída por um potente mini-avião. Depois, seguir-se-ão os habituais enguiços no maquinismo. A culpa vai ser dos assentos, do Mefistóteles ou então daquelas aves agoirentas, tipo Cassandras, que não se juntam ao povo no alegre rodopiar. Necessário e importante é que o carrossel continue a girar, a girar, a girar... mostrando como é forte a democracia! 

Valdemar J. Rodrigues

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Teilhard de Chardin (1881 — 1955): Quem tiver ouvidos que oiça

«O século passado conheceu as primeiras greves sistemáticas nas fábricas. O próximo século não terminará sem uma ameaça de greve na Noosfera.»

Teilhard de Chardin, Le Phénomène humain,1955

PS: Isto devia interessar às chamadas empresas "criativas", à indústria da "cultura" e à chamada aposta "política" na "inovação"...

sexta-feira, 26 de junho de 2015

James Ensor, 1860-1949

Jus romanum, o Pato de Goethe, o Estado Global, arquitectado mas sem governo à vista, e uma Nação de tecnocratas sem poiso... assim não vamos lá, nem com a "ajuda" do Papa Francisco...


Prefiro a Erica....



sexta-feira, 1 de maio de 2015

Contra o ortografês e a "normalização cerebral"



 
Tenho estado publicamente contra essa merda de "acordo" ainda escrevia no DN Jovem, estávamos no início da década de 1990. A técnica, que o f.d.p. do Estaline tanto gostava, não se combate com mais técnica: combate-se com Arte e com vernáculo, e com um murro nos cornos se necessário for, a la Nietzsche, homem que como qualquer não ignorante saberá nunca foi nem anti-semita nem fascista. Não existem "organismos oficiais". Existem - na natureza - apenas organismos. Uns pensam; outros, nem por isso.

domingo, 5 de abril de 2015

Engenharia do Ambiente da Lusófona: Factos que falam por si...

http://www.a3es.pt/pt/resultados-acreditacao/engenharia-do-ambiente-25 



Um Mestrado totalmente restruturado e reorganizado que obteve acreditação por 6 anos! por parte da A3ES, e uma Licenciatura, reconhecida em Portugal pela Ordem dos Engenheiros Técnicos e, internacionalmente. pela FEANI. Eis o trabalho em que eu e o prof. Jorge Costa - que se afastou da univesidade há cerca de um ano, optando por processar judicialmente a univesidade pelos danos que esta lhe causou - nos empenhámos arduamente, muitas vezes à custa da nossa vida pessoal e do tempo que não era o da Lusófona. Nunca antes o curso alcançara tanto reconhecimtno. Deus sabe - mas não apenas Ele - as condições actuais de funcionamento de tais cursos... Todos sabemos o trabalho que dá construir alguma coisa de bom, e a facilidade com que se destrói o tabalho feito. Apelo aos antigos e actuais alunos que se movam em defesa de algo que nós, entre outros colegas e funcionários generosos e competentes que felizmente ainda vai havendo na universidade, fizemos sobretudo por eles, a pensar neles e também com a sua preciosa ajuda. Não caberia aqui a lista de nomes de actuais e ex-alunos de Engenharia do Ambiente da ULHT que tornaram possíveis tantas e tão construtivas acções e eventos.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Era uma vez uma universidade...


É com muita pena minha que me vejo obrigado a fazer este post, e espero que os actuais e ex-alunos da Lusófona que me conhecem possam vir a perdoar-me, pois na verdade o que escrevo é para seu bem, e visa mostrar que o declínio da ULHT é recente, e foi muito pronunciado após o "caso Relvas" em 2012. Aos colegas professores na ULHT, com os quais sempre estive solidário, deixo, para que reflictam um pouco, as seguintes palavras de Hannah Arendt:

«Onde todos são culpados, ninguém o é; as confissões de culpa coletiva são a melhor salvaguarda contra a descoberta dos culpados, e o tamanho do crime a melhor desculpa para não se fazer nada.» - Arendt, H. (2006 [1969/70]) – Sobre la violencia. Madrid: Alianza Editorial, p. 87

Aí vai então o excerto da minha página da Wikipedia, actualizada hoje:

Valdemar José Correia Barbosa Rodrigues...

Foi - e "teoricamente" ainda é - professor na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa desde 1998/199918 , actualmente com a categoria de Professor Associado Foi Director nesta Universidade, entre 2009 e 2013, dos cursos de Licenciatura e Mestrado em Engenharia do Ambiente ministrados pela Faculdade de Engenharia da ULHT, integrando ainda o corpo docente do Instituto Superior de Gestão onde colaborou até 2012 no Mestrado em Gestão da Energia. Acedeu em 2013 ao convite para integrar o Centre for Interdisciplinary Development and Research on Environment, Applied Management and Space (DREAMS), unidade de I&D da ULHT da qual em Março de 2015 ainda era responsável o Prof. João Corte-Real, catedrático da Univ. de Évora, mas onde nunca chegou a desenvolver qualquer actividade de investigação. Pediu a demissão dos cargos de direcção de cursos na Univ. Lusófona em Setembro de 2013, após ter manifestado por diversas vezes, nos órgãos próprios da universidade, a sua discordância com a "gestão do dossier Relvas", e com o facto de os custos materiais e morais dessa "gestão" estarem a ser sobretudo suportados pelos professores e alunos, reflectindo-se na degradação geral das condições para um ensino de nível univesitário. Acresceu o facto de, ao fim de 15 anos de serviço ininterrupto na Univ. Lusófona, e após ter assumido cargos de direcção de cursos, continuar na condição de "prestador de serviços", pago à hora, em função do número de alunos inscritos a cada disciplina, alunos que, para a ardilosa administração da ULHT, só contam como "inteiros" se estiverem inscritos à totalidade de UCs do semestre, correspondente a 30 ECTS. Após a sua demissão ter sido finalmente aceite, em Novembro de 2013, continuou, até Maio de 2014, a assegurar a docência das unidades curriculares das quais era habitualmente responsável. Em Março de 2014, com uma carga horária completa, correspondente a 12 horas semanais de aulas, em período laboral e pós-laboral - até às 23 horas - o seu salário líquido como Professor Associado, com responsabilidades não apenas docentes mas também de investigação científica, não chegava a mil eurros. Os subsídios de férias e Natal que haviam sido pagos regularmente até 2012, desde então e até Abril de 2015 nunca mais foram pagos. Sindicalizado desde 2005, inscrito no SNESUP, viu até Março de 2014 as suas quotas sindicais serem-lhe mensamente descontadas pela COFAC, CRL - a cooperativa titular da Univ. Lusófona. Subitamente, a partir de então não mais lhe foram feitos os descontos. Denunciou em Julho de 2014 a situação insustentável vivida na ULHT à autoridade competente - a IGEC Inspecção Geral da Educação e Ciência - baseando-se no seu caso particular e no dos cursos que dirigiu e onde leccionou, dando conta das constantes ingerências da administração da COFAC, nomeadamente através do então administrador-adjunto Manuel José Damásio - o mesmo que agora diz n'O Público não falar em nome da Lusófona - em assuntos do foro científico e pedagógico dos cursos, o que punha em causa o princípio da autonomia científica e pedagógica das faculdades e dos seus órgãos competentes nessa matéria: os Conselhos Científicos e Pedagógicos. Denunciou ainda a situação degradante de muitos professores com doutoramento que, com responsabilidades pela regência de unidades curriculares e pela obrigatória investigação, recebiam mensalmente quantias irrisórias, em muitos casos de poucas centenas de euros, e viam o seu trabalho limitado pela falta de condições e equipamentos laboratoriais, situação agravada pela circunstância de estarem dem causa não só licenciaturas mas também mestrados. Estranhamente, em Abril de 2015 sinda não lhe tinha sido comunicada qualquer decisão por parte da ACT, para onde a IGEC decidiu remeter a sua queixa, considerando-a um "assunto laboral". Relativamente ao Sindicato SNESUP, teve a ingrata experiência de uma reunião com um dos seus advogados, "encarregue da Lusófona", durante a qual alguém, que se intitula de jurista, teve o desplante de encolher os ombros perante tão óbvias injustiças e irregularidades, rendendo-se à ideia de que o "legal" neste país equivale ao "justo". Mais tarde não se queixem os advogados se forem substituídos por "máquinas judiciárias" de uma "justiça científica"... obviamente que para os pobres que são a maioria...

Desde Maio de 2014 encontra-se em situação de baixa médica, devido ao agravamento do seu estado de saúde, nomeadamente à sua retinopatia diabética causada pela diabetes tipo I diagnosticada quando tinha 14 anos de idade. Pediu reiteradamente  ao serviço de recursos humanos da ULHT as declarações normalmente exigidas pela Segurança Social à entidade empregadora para que o doente possa usufruir do direito aos complemento dos subsídios de férias e Natal de 2014, mas, até Abril de 2015, não obteve nenhuma resposta.

Sintra, 3 de Abril de 2015

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Felizmente há luar!

Sttau Monteiro deu mote, mas não é de uma revolução liberal falhada que vou falar. Do que falo é do mundo de abstracções em que vivemos, e da necessidade de separarmos ficção e realidade, sem termos de cair em materialismos ou outros "ismos". Quando se ouve "Portugal isto", "Bruxelas aquilo" ou a "Grécia aqueloutro" já quase não reparamos que tais "seres" inexistem enquanto tal, e ganham vida apenas nesse mundo ficcionado de abstracções. Abstracções geralmente sem beleza nem grandeza. "Portugal" pode até exportar automóveis para a "Alemanha", mas eu não conheço nenhum "Portugal" e não conheço nenhuma "Alemanha". Tais seres nunca me foram apresentados, nunca falei com eles nem eles alguma vez se dignaram almoçar comigo. Os automóveis que "Portugal" exporta até podem ter sido feitos numa "fábrica alemã" que está em "Portugal", isso pouco me importa. Sei é que não existem seres tais como "fábrricas alemãs" – que ideia ridícula a de haver fábricas que falam como os animais de La Fontaine; que falam e ainda por cima numa língua tão difícil de entender como é a alemã ... – "Berlim" ou "Lisboa". Nunca amei nenhuma "Lisboa", contudo amei os belos versos livres de Irene:
Irene Lisboa - picado aqui

Escrever

Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando...

E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?

O "ser" "Portugal" inexiste, mas felizmente há o "ser" Lua e o seu insubstituível luar. A Lua existe na sua beleza grandiosa e economicamente inútil, até que alguém se aproprie dela e passe a "representá-la" e a "falar" em seu nome... O que há na verdade são sempre esses alguéns...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Um perfeito disparate!

António Costa deixa antever as "grandes medidas" do seu próximo (des)governo socialista democrático, que em Outubro próximo irá - inevitavelmente, pensa ele, as Grandes Lojas do Bem que o "elegeram" e os meios de intoxicação social que o apoiam - suceder ao actual governo de coligação da social-democracia com a democracia social - o CDS era isso: o Centro Democrático Social...

Costa é um "ambientalista" feroz e convicto apostado, por todos os meios, em "purificar" o "ar" da "sua" cidade e em lutar contra o aquecimento global causado pelas classes sociais mais poluentes e desqualificadas. que insistem em andar por Lisboa em carros do Século passado... que ainda não adquiriram o estatuto de "históricos", pois esses, tal como os Ferrari de 2014,  devem poluir bastante menos concerteza... Uma intolerável falta de sentido de "progresso" e de "modernidade" portanto... A história infelizmente está cheia de "purificadores" do ar e de outras coisas... Costa não vai ser o primeiro, nem concerrteza o último a querer "purificar" a "nossa sociedade"... mas convém ter cuidado e, obviamente, evitar também por todos os meios votar nele em Outubro próximo...


A lei municipal é perversa, tipicamente ao estilo pombalino-napoleónico de outro Costa para muitos de má lembrança, irracional, discriminatória, cheia de "excepções" mal amanhadas, e não vai resolver nenhum problema de "qualidade do ar" em Lisboa. A "assembleia municipal" que a aprovou, os juristas que trataram da indispensável "parecerística", o governo "social-democrata" que assobiou para o ar como se nada fosse, e o presidente da república, que, como habitualmente, "não acha oportuno comentar",  deviam todos sentir vergonha de ter nela consentido, mas a vergonha tornou-se um bem muito mais escasso do que o ar limpo das cidades. Para "descentralizar", o dr. Costa não hesitará decerto em aplicar a "medida" a outras cidades e vilas portuguesas, e estendê-la a aviões e caciheiros, para que assim todo o Portugal fique definitivamente mais "limpo" e mais "puro"...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Obviamente...

... o "povo" não pode voar tanto e... tão "baixo"... os aviões comerciais têm muita "informática" e andam a derivados de petróleo, o que significa que causam aquecimento global e são alvos fáceis do "ciberterrorismo"... Seguem-se pois leis severas e normas internacionais irrecusáveis, para que ao mesmo tempo o "ambiente aéreo" e a "rede" fiquem mais "limpos" e mais "seguros"!... e também somente para já um "nadinha" quase insuportavelmente mais caros... batalhões de juristas e advogados estão a esta hora a "trabalhar" no assunto, pelo que se aguardam para breve grandes conferências "mundiais" e colóquios "especializados" sobrre o tema dos "aviões que desaparecem" e da sua "segurança"... debates que vão levar a "humanidade", "democraticamente", a um "consenso" jurídico-científico-legal sobre tão agudas matérias... Mefistóteles obviamente não pára porque, se parasse. um instante só que fosse, morreria... ele olha muito bem aos meios que o podem levar a atingir os seus fins... e a sua imaginação é eficaz e prodigiosa... De lamentar contudo a tragédia humana, o sangue inocente que o "progresso" se habituou a ter de derramar... em oferenda ao divino "bem geral"... "O maior bem para o maior número"... Obviamente, o "comboio da história" tem pressa e não pode parar em todas as "estações" e "apeadeiros", ou sempre que uma criança se lhe atravessa à frente... além disso, as "estações" e "apeadeiros" estão prenhes de cassandras e Velhos do Restelo que, além de atrasarem a "história", podem dar-lhe "azar"...


sábado, 27 de dezembro de 2014

Os falsos "adeuses" à "crise"...

Às vezes é preciso dar um passo atrás ou, talvez melhor, fazer uma brevíssima "pausa" na "grande marcha", para, logo a seguir, poder dar dois em frente... Lenine também fez assim... e depois veio  Stalin...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Não ser, ou ser apenas aquilo que já fomos, e já não somos...

Na geração dos meus pais era habitual ouvir-se dizer, ou dizer-se de alguém em idade activa: ele "é" isto ou aquilo; e de alguém já aposentado: ele "foi" isto ou "era aquilo"... sendo o "isto" ou "aquilo" a profissão da pessoa: agricultor, serralheiro, pedreiro, padre, professor, médico, engenheiro, etc. etc.

As coisas eram assim: as pessoas acabavam por ser aquilo que faziam, sem prejuízo de também serem aquilos que todos, ou quase todos, eram, e continuamos a ser, pelo menos durante uma parte das nossas vidas: bisnetos, netos, filhos, esposos, pais, avós, bisavôs... a vida, para muitos árdua e materialmente pouco compensadora, parecia contudo ter um sentido...

Depois veio a "aceleração da história", um eufemismo totalitário. Acelerar a história foi o que procuraram fazer Hitler e Stalin, o primeiro acelerando a "selecção natural das raças" e o outro o "rumo ao socialismo". O comboio da história acelerou, e move-se agora rumo a uma "sociedade descarbonizada" e "sustentável"... - Mas cuidado: eu não sou dos que duvidam que a actividade humana altera o clima! Custa-me apenas que tenhamos todos de pagar pelo mal que alguns fizeram ... e continuam olimpicamente a fazer... Não sei quem é a "humanidade"; nunca falei com "ela"; nunca ninguém ma apresentou... Apenas conheço homens e mulheres, particulares e concretos...e muitos deles conheço-os até bem demais  para poder confiar neles, ou recomendá-los para companhia dos meus - poucos mas muito bons, cada vez melhor - amigos ...

A minha geração, tal como as posteriores à minha - uma geração corresponde à idade média à qual as mulheres têm o seu primeiro filho, e por isso agora as gerações são mais extensas, e também menos numerosas... - viveram os tempos da restauração de um nazismo global, uma restauração imaginosa e eficaz, por vezes mais lenta ou atribulada, feita sob a máscara do "social" e do "interesse geral" da "humanidade", e que conduziu às sociedades totalitárias em que hoje vivemos, e às quais as gerações futuras, e algumas presentes, poderão não conseguir sobreviver, se não acordarem depressa para a impostura global em estão mergulhadas ... Dirão que sou pessimista, mais uma das muitas Cassandras que abundam por esse mundo... Não me importo que o façam... antes prefiro estar vivo até morrer, do que morrer vivo e rodeado de gente morta... Parafraseando Pessoa, rodeado de cadáveres adiados que (até já não) procriam...

Este texto é, como facilmente se percebe, uma Mensagem de Natal...

O não ser, ou ser na tangência daquilo que fomos, fez-me pensar naquilo que já fui e que deixei de ser e portanto já não sou...

Em 1981 era Operador de Empilhador na Cerâmica do Canteirão, em Valado dos Frades, Nazaré;
Em 1982 era Praticante de Balcão de 1º Ano na loja de pronto-a-vestir Firmo, Alberto e Trindade Lda., em Alcobaça;
Em 1984 era Fiel de Armazém na COOPSPAL - Cooperativa de Consumo da Spal, em Alcobaça;
Em 1985 era Encarregado na mesma COOPSPAL;
Em 1992 era Engenheiro do Ambiente;
Em 1989 era Professor de Matemática na Escvola Secundária do Monte da Caparica;
Em 1993 era Professor de Quimicotecnia e Técnicas Laboratoriais de Química na Escola Secundária Stuart Carvalhais, em Queluz;
Em1992 era Consultor em Economia da Energia, dos Transportes e do Ambiente no CEEETA;
Em 1995 era Investigador da JNICT;
Em 1998 era Assistente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tenologias
(ULHT);
Em 2003 era  Professor Auxiliar na ULHT;
Em 2009 era  Director dos Cursos de Licenciatura e Mestrado em Engenharia do Ambiente da ULHT;
Em 2013 voltei a ser apenas Professor na ULHT, desde 2012 com a categoria de Associado;
Em 2014, aos 49 anos de idade, voltei a ser apenas o Valdemar, sem os prefixos ou sufixos que, na verdade, nunca procurei nem nunca me interessaram... a Lusófona é uma escola prática e moderna: quando um professor adoece, ao fim de poucos meses ela substitui-o por outro - outros no meu caso - e simplesmente deixa-o sem "horas" caso ele "decida" voltar ao trabalho, i.é., o professor fica sem trabalho e sem salário... isto deve fazer parte da "excelência" do seu ensino...
Em 2015 ainda não sei bem o que vou ser... se souberem alguma coisa de mim, por favor informem...

Bom Natal e um Feliz Ano Novo de 2015 para todos, inimigos incluídos!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Série Fábulas de Esopo I - O Velho. o Rapaz e o Burro


O Velho, o rapaz e o burro 

Um dia, há muito, muito tempo, um velho e o filho resolveram ir ao mercado vender o burro que tinham. Seguiam a pé, pois achavam que venderiam melhor o burro se ele chegasse descansado ao mercado. No caminho, cruzaram-se com alguns viajantes, que começaram a troçar deles: — Olhem aqueles tolos, têm burro e vão a pé. O mais estúpido dos três não é quem se esperaria. O velho não gostou que troçassem dele e disse ao filho que se montasse no burro. Um pouco mais adiante passaram por três mercadores. — Mas o que é que temos aqui?! — disse um deles. — Respeita os mais velhos, meu jovem. Desmonta e deixa o teu pai ir montado no burro, que já é muito velho para ir a pé. Embora ainda não estivesse cansado, o velho mandou apear o filho e montou ele no burro. Andaram um pouco mais até que encontraram um grupo de mulheres que também ia para o mercado com cestos de hortaliças para vender. — Olhem para estes — disse uma delas. — A pobre criança a pé e ele todo repimpado no burro. O velho sentiu-se um tanto ou quanto vexado, mas para se mostrar agradável pediu ao filho que montasse atrás dele no burro. O rapaz obedeceu e continuaram a viagem com os dois montados no burro. Um pouco mais adiante, um grupo de pessoas interpelou-os com indignação: — Mas que crime, será que quereis matar o burrinho? Pareceis mais capazes vós de carregar o burro do que o comtrário. O velho e rapaz não tardaram a desmontar, e passado um bocado, quase a chegarem ao mercado, gerou-se um enorme burburinho ao verem os dois carregando o burro atado num pau que transportavam de ombro a ombro. Juntou-se uma multidão para observar tão estranha cena. O burro não se importava muito de ser carregado aos ombros, mas quando a multidão se aproximou e começou a rir e a troçar, ele desatou a zurrar e a escoucear,e, precisamente quando iam a atravessar uma ponte, as cordas que o prendiam soltaram-se e o burro caiu ao rio e foi arrastado pela corrente. O pobre do velho regressou então tristemente a casa. Querendo agradar a todos, acabou por não agradar a ninguém e ainda ficou sem o burro.

sábado, 15 de novembro de 2014

Série Grandes Mestres - VI

(Lisboa, 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 1978) 
Engenheiro, poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor... 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Série Grandes Mestres - III

Deusa Díkê, Símbolo da Justiça na Grécia antiga. De olhos destapados e... com uma espada na mão direita. (a Iustitia dos romanos, que até hoje vigora, tem os olhos tapados e não tem espada... é a espada do poder que está que a protege...)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Declaração de Amor à Língua Portuguesa, por Teolinda Gersão

Pensar, para quê, hoje, quando tudo já foi pensado e (em nosso nome) decidido? A língua-mãe é o "órgão" que nos permite pensar, organizar ideias, exprimir claramente aquilo que sentimos e pensamos, e julgar claramente aquilo que ouvimos e lemos dos outros. Embora possamos aprender e compreender outras línguas, nenhuma língua adoptiva substitui aquela que aprendemos da voz de quem nos quis com amor, e com amor nos recebeu no colo quando fomos lançados ao mundo. Alterar intencionalmente a língua-mãe, por qualquer razão ou decreto, é um acto fundamental de desamor; e embora se trate de um assunto de importância cultural - como tão bem e insistentemente sublinhou Vasco Graça Moura enquanto viveu - o seu maior interesse é político e é simples: incapacitar as pessoas. Torná-las incapazes de pensar e raciocinar com clareza; incapazes de exprimir e compreender a realidade e o significado das coisas que são como são e, como tal, existem na sua ecceidade (a ideia de "simplificar" a língua retirando-lhe do uso certas palavras tem esse objectivo político); incapazes de manter uma ligação à realidade do mundo, ligação necessária para que nele possam continuar a existir como pessoas e não como objectos virtuais facilmente manipuláveis. Orwell percebeu muito bem a natureza política do empreendimento da "alteração da língua", e escreveu em 1946 um ensaio sobre o tema cuja leitura vivamente recomendo (chama-se Politics and the English Language, e está disponível gratuitamente, entre outros quarenta e nove excelentes ensaios, em: http://gutenberg.net.au/ebooks03/0300011h.html). Para se perceber a intenção política com que a língua sempre foi e continua a ser usada e abusada, tem-se o exemplo recente das "Evocações" (e porque não comemorações?) do Centenário da I Grande Guerra. De facto, pouco haveria para "comemorar" no feito canalha da "elite" (republicana, liberal, burguesa;  a ordem dos qualificativos é arbitrária) que então "governava" o país (e cujos muitos filhos, netos e bisnetos continuam até hoje a "governá-lo", sempre "governando-se" a eles primeiro, pois quem parte e reparte... e hoje já não iluminada mas encandeada com as luzes dos faróis da "ciência juridica", esse "direito puro" universal que tando agradava a Hans Kelsen); no feito canalha - dizia eu - de enviar para a morte mais de cem mil infelizes, militarmente impreparados e que nem roupa tinham em condições para se precaverem do frio.  Tê-lo-ão feito para "credibilizar" a "república" junto das "potências europeias", a quem deviam a "factura" dos comboios e dos eléctricos da Carris, entre outras... algo equivalente hoje à "credibilização" do país junto dos "mercados"... "Evocar" é sem dúvida mais bonito e soa melhor aos ouvidos sensíveis - que são escassos e cada vez menos - que conhecem bem a "ética republicana" que acompanhou a "ética liberal", e sempre duvidaram do que diziam os "manuais de história" i.e., os manuais de revisionismo histórico - que continuam, agora em novilíngua e com "magalães" e quadro interactivo, a ser ditados aos infelizes de sempre nas escolas portuguesas. Mas para não alongar mais a conversa, que facilmente podia resvalar para altas figuras, figurantes e figurões que por aí se pastoreiam sob a capa de "humildes" pastores (pastores de homens e pastores da história e das ideias)... vamos lá então ao magnífico texto da Professora Teolinda Gersão, que ela escreve sob a forma de redacção de um aluno que oxalá ainda haja. Reza assim:


Redacção

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.”O Quim está na retrete”: “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.

No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados; almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.


No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?


A professora também anda aflita. Pelo visto, no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer, dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em “ampa”, isso mesmo, claro.)


Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.


E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação.O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impôr a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.

E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

Este texto é da autoria de Teolinda Gersão. Escritora, Professora Catedrática aposentada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Escreveu-o depois de ajudar os netos a estudar Português. Colocou-o no Facebook

domingo, 3 de agosto de 2014

O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Herberto Helder, sobre o Gás

A última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui...
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para
                                                                          outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da
                                                                              morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas,
se eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por
                                                       aqui acabasse nazi,
já seria mais fácil,
como diria o outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de gás,
a minha vida quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer
                                                        que a habita e move,
não me queixo de nada no mundo senão do preço das
                                                               bilhas de gás,
ou então de já mas não venderem fiado
e a pagar um dia a conta toda por junto:
corpo e alma e bilhas de gás na eternidade
- e dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora,
países inteiros cheios de gás por baixo.


Herberto Helder, A Morte sem Mestre, 2014, p. 57-58.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Dia 18 de Janeiro, Sábado, pelas 16:30 na Biblioteca Municipal de Alcobaça

Dia 18 de Janeiro próximo, se Deus quiser, irei estar em Alcobaça, minha terra de naturalidade, para falar sobre ORTOGAL, aquilo que ele significou e significa para mim. O meu querido amigo José Alberto Vasco aceitou a missão (espinhosa) de apresentar o livro e a minha pessoa, algo que lhe agradeço do fundo do coração, pois como ele sabe não sou muito dado a confessionalismos e intimismos (pseudo) intelectuais, tão do gosto da "multidão solitária" dos dias que correm. A verdade é que a tudo isso, como o José Alberto sabe, prefiro um copo de vinho acompanhado de boa conversa e, se possível, uns quantos cigarritos ecológicos (visto não terem beata: são apenas o tabaco e a celulose facilmente biodegradável do papel de enrolar). A conversa é para começar às 16:30 mas, antes disso, ao meio-dia (meio-dia com hífen, como me ensinou a minha saudosa professora Angelina, da Póvoa de Cós), vou estar com a Piedade Neto, também ela da Póvoa, para uma conversa a dois na Rádio Cister, para quem nos queira ouvir. Se puderem, apareçam e/ou ouçam.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013