... aconteceu cá pela choça portugáliae a partir de um certo momento não muito distante da "queda do muro"... eu tive a sorte de assistir a tudo... pelo menos do ponto de vista das chamadas ciências naturais... a coisa foi mais ou menos assim... primeiro os cientistas que insistiam na experimentação e na análise laboratorial das coisas e dos fenómenos... foram parecendo cada vez mais "arcaicos"... ao que acrescia o facto de serem de uma geração anterior e mais experiente... rapidamente foram ficando isolados... alguns deles... os mais sábios e inteligentes... auto-isolando-se... incapazes de aceitar uma transformação tal da ciência que a distanciava da experiência prática e laboratorial... ao mesmo tempo que se deixava deslumbrar com os modelos matemáticos e os computadores... neste aspecto fundamental os cientistas dividiram-se portanto, e os financiamentos a projectos de I&D que aos poucos iam privilegiando uma investigação científica cada vez mais teórica e aplicada ao tratamento e processamento de dados e informações... mais do que à obtenção ou replicação dos mesmos... pareciam dar razão aos "novos" cientistas... e tirá-la aos "velhos"... sinal de facto de que uma mudança importante acontecera na escola... de que o estudante que outrora, quando se afastava do mestre, só o fazia após ter sido seu discípulo... agora... quando chegava à escola... era como se tivesse à partida de escolher entre o "novo mestre"... e o mestre "arcaico" que questionava a "nova" ciência... como era seu dever... pois se novos instrumentos de análise e processamento dos dados haviam surgido isso não significava que o esforço de obtenção, teste e validação dos dados tivesse agora menos importância, nem que os anteriores instrumentos de análise estivessem errados, nem que os seres e fenómenos naturais pelos quais a ciência perguntava tivessem mudado... e fossem agora outros... se alguns cientistas momentaneamente se deixaram deslumbrar... até porque havia razões para isso... eles não deixaram porém de prosseguir o seu trabalho científico... percebendo nos computadores um extraordinário instrumento com o qual a ciência empírica passaria a contar... mas que não podiam substituir a experimentação e o contacto físico com a realidade do mundo e da natureza... o problema é que foram apenas alguns... a maioria terá aderido aos encantos da "nova" ciência... uns vendo a oportunidade de passar para o formato digital... a fim de os processar... os muitos dados que havia e estavam algo dispersos... e outros fazendo-o por puro calculismo político-científico... privei com exemplos de todos eles.... aos primeiros tiro obviamente o chapéu... e lamento que as universidades tenham franqueado as portas a muitos dos segundos... o que está fazendo muito mal à ciência... e à história em geral... os muitos calculistas e oportunistas das ciências naturais, do ambiente, da sustentabilidade, etc., terão sido os idiotas úteis ou os simples canalhas a quem o novo totalitarismo global bastante fica a dever....
...de mim direi que inicialmente também cedi aos encantos da "nova" ciência natural imaterial... mas aos poucos fui percebendo o que estava em jogo... uma ciência com uma maioria de cientistas-ruminantes (mastigando ideias alheias e sem quaisquer ideia própria ou em primeira mão) e uma minoria de produtores de ideias... sempre algo distantes e crescentemente mediatizados... conheci exemplos de todos... da minha geração ainda quase todos vivos (o João Morais, um amigo que não esqueço, além de um excelente cientista do ambiente, foi o primeiro a deixar-nos...) e da anterior muitos já mortos... os projectos em que participei, e que me proporcionaram o material para o doutoramento que em 2003 viria a defender na FCT/UNL, mostraram-me claramente que essa degeneração da ciência era fundamental para que a agenda totalitária de uma "sociedade (supostamente) científica" pudesse avançar... em particular fiquei algo surpreendido quando percebi que para essa transição a democracia não passava de mero instrumento; para os ditos "democratas liberais", ou simplesmente socialistas modernos... para sermos mais práticos... a democracia não era requisito indispensável para a sustentabilidade... o que me causou perplexidade... como se o oxímoro do "crescimento económico sustentável" tivesse já como pano de fundo o homólogo da "democracia liberal"... pois ou se era cientificamente liberal ou politicamente democrático - não as duas coisas... hoje já se percebem bastante bem estas coisas... e vai ser interessante observar como uma certa classe média e média-alta ambientalista irá sem o apoio popular enfrentar a classe alta das sociedades que é quem de facto pode e manda... e a quem há bastante tempo - desde o início da década de 1970... interessa de facto preservar... (e descarbonizar, i.e., esvaziar de gente)... a conquistada "casa" planetária... mas para isso era preciso que os "governos do povo" fizessem as leis adequadas... para endividarem colossalmente o "povo"... e as gerações futuras (sem futuro portanto)...só assim... lentamente... poderia a maioria de seres humanos ser penhorada e expropriada... dos recursos naturais ou activos fixos tangíveis... como a e-cunomia lhes chama... aquando da divisão da escola na ciência em duas escolas, a do mestre "velho" e a do mestre "novo"... divisão só na aparência fruto da chamada "revolução informática"... não era muito nítida a diferença de gerações... poucos anos de vida separavam geralmente o mestre "novo" do "velho"... com a diferença que o mestre "novo" era o que atraía mais alunos... terão sido por isso ainda menos os discípulos dos mestres "velhos" que conseguiram manter a tradição de uma ciência experimental com forte ligação ao mundo e à natureza... que conseguiram... por outras palavras... chegar até aqui dando vida a uma ciência não esotérica... somente eles nos interessam e podem ajudar a desmontar a gigantesca armadilha que os outros... os idiotas úteis ou simples canalhas da ciência... ajudaram a montar ... um brinde para eles!
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