A política e a (nova) economia das alterações
climáticas há bastante tempo que nos vem afastando do essencial,
que é pôr a Ciência, com maiúscula, ao serviço da sociedade. Se
aceitarmos como verdade que o "aquecimento global", ou
melhor, o seu suposto agravamento recente, é devido a nós, humanos,
por causa das nossas emissões de Carbono de origem fóssil, vemos
que isso é bom para todos os intervenientes, à excepção de cada
um de nós, individualmente, enquanto consumidores de produtos
energéticos de origem fóssil e da miríade dos produtos derivados
do petróleo. É isso que torna desde logo suspeito o enfoque
actual na "luta contra o aquecimento global". Os
governos ganham com a luta, pois podem cobrar mais taxas e impostos
aos seus cidadãos; as companhias petrolíferas também, pois,
cartelizadas como é sua regra, beneficiam do "clima"
propício ao agravamento dos preços do petróleo e do gás; os
produtores de automóveis ganham, pois continuam, como sempre, a
fabricar e a vender máquinas a diesel e gasolina, ao mesmo
tempo que recebem apoios públicos para o desenvolvimento de soluções
de transporte "mais sustentáveis" (como se elas não
existissem há décadas!); os grandes conglomerados financeiros e
económicos ganham, pois os enormes custos que a luta envolve deixam
os Estados nacionais mais fracos acelerando, como é desejo das
corporações, o seu controlo totalitário por parte destas. Enquanto
a luta se vai travando, instituições como o Painel
Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) ou a
Agência Europeia do Ambiente
(EEA) vão, ingenuamente (?), produzindo relatórios e inventários de emissões nacionais de gases com efeito de estufa (GEE), como se o Carbono ainda tivesse alguma
"nacionalidade" depois do proclamado "fim da história"
e de mais de duas décadas de desregulamentação e liberalização
dos mercados mundiais, promovidas pelas suseranias
supranacionais da Organização Mundial
do Comércio (WTO), do Banco
Mundial (WB), do Fundo
Monetário Internacional (IMF) e da União
Europeia. Não se pode continuar a passar ao lado de uma realidade
cada vez mais flagrante: entre os principais emissores (ou
indutores de emissões) mundiais de Carbono de origem fóssil
encontram-se não somente Estados nacionais, mas crescentemente
corporações e conglomerados económicos globais que escapam
"milagrosamente" a qualquer inventário de emissões! O
IPCC desculpar-se-á com uma qualquer dificuldade técnica ou
"metodológica", relacionada por exemplo com as dinâmicas
empresariais modernas ou com a disponibilidade de dados.
Irrelevâncias para uma organização que, quando quis, conseguiu
sempre ultrapassar os obstáculos "técnicos" existentes à
quantificação das emissões. Mas, se esta evidência é já, no
mínimo, flagrante (veja-se,
entre as 175 maiores entidades económicas mundiais em 2011, quantas
são Estados nacionais e quantas são corporações ou conglomerados
económicos), para quê a persistência em quantificar as
emissões "nacionais" de Carbono fóssil senão para
"culpabilizar" e tornar (ainda mais) vulneráveis os
respectivos Estados?
Os governos nacionais, incapazes de fazerem frente a
este ataque, seguem o rumo traçado pelas corporações globais. À
medida que a economia se descarboniza, reduz-se o espaço
de acção política dos governos para benefício da sociedade, e
aumenta a sua dependência da “boa vontade” das corporações
para o cumprimento dos seus deveres constitucionais. Inevitável se
vai tornando aos poucos tudo aquilo que não podem, ou não querem,
enfrentar. Os governos nacionais do mundo Ocidental (a começar pelo
dos EUA), e provavelmente cada vez mais os governos do resto do
mundo, estão hoje rendidos à arbitrariedade e aos interesses das
grandes corporações globais. Contribuiu muito para isso no Ocidente
o terem deixado corromper-se, aliciados por tentações como a de
lutarem contra inimigos hipotéticos, ou pelo menos fortemente
exagerados e distorcidos, amplamente difundidos pelos media de massas
modernos. Media criadores de ilusões, para quem a “notícia” é
um bumerangue (veja-se o curioso logótipo da empresa de media
Controlinveste) que, uma vez lançado
com a ajuda das agências de informação e comunicação, traz de
volta lucro certo para as corporações. A
notícia vende – conferem os analistas. Mas a ilusão criada no
que concerne à luta dos governos (corrompidos) contra o "aquecimento
global" desfaz-se rapidamente perante a seguinte questão:
quanto
valem anualmente as taxas ecológicas que recaem directamente sobre
os consumidores nacionais de produtos petrolíferos (famílias e
pequenas e médias empresas), e quanto valem as licenças, taxas e
compensações pagas aos Estados nacionais pelas corporações que
exploram e comerceiam sob sua licença os recursos energéticos de origem fóssil?
Seria lógico que tais parcelas fossem idênticas, pois tão
responsáveis pelo aquecimento global de origem antrópica são
aqueles que consomem os combustíveis fósseis como as corporações
que os exploram e colocam à venda com licença dos Estados. Mas a
ilusão é a seguinte: os governos nacionais (e locais), tão
“empenhados” que estão na luta descarbonizadora, fazem o papel
de vilões, o que aos poucos os descredibiliza, pois cobram a uns
(mais) e às outras (menos), como de resto acontece com produtos como
o tabaco, as drogas "legais" e as bebidas alcoólicas.
Lastimando os malefícios que causam ao clima os GEE, ou à saúde
e à segurança rodoviária o fumo do tabaco e o vinho, os governos
nacionais são os principais dependentes e beneficiários de tais
vícios, e não parece! Eis portanto a ilusão. Corrompidos, os
governos nacionais e as corporações globais ganham assim ambos na exacta
proporção em que os Estados nacionais perdem! Como pode um governo
empenhar-se na
luta contra o aquecimento global quando ao mesmo tempo aprova um
plano nacional de produção de petróleo e gás? E porque ficam
as ONGAs nacionais em silêncio perante tal atentado carbónico? Ou
será que tudo isso não passa de um fait-diver, uma
forma de o governo dar avais a projectos muito caros e arriscados de
prospecção de petróleo a grandes profundidades? Outro exemplo:
porque razão um governo nacional, como o dos EUA, empurra
a exploração petrolífera, reduzindo-lhe
os impostos, para zonas de offshore onde os riscos
ambientais de um acidente são incomparavelmente maiores, o que
poderá em última instância ter levado ao maior
desastre ambiental da história dos EUA? O que estou
fundamentalmente a dizer é o seguinte: um governo que luta contra
o aquecimento global não é necessariamente um governo bom ou amigo
da sociedade, do Estado nacional ou do próprio ambiente. Pode
muito bem ser o contrário disso tudo! Eis o erro em que poderão
incorrer, e certamente incorrem, muitos ambientalistas incautos.
Ganham também com a luta descarbonizadora os
(geralmente maus) cientistas postos ao serviço da "nova Cruzada
descarbonizadora", pois vêem os seus centros e projectos de
investigação generosamente financiados por fundos públicos e
fundações privadas geridas pelas corporações globais. Isso
aconteceu em Portugal, por exemplo, com os projectos SIAM
I e II, que teriam merecido um melhor escrutínio
científico, pois que de facto quase nenhum houve, o que também demonstra a pequenez científica de uma nação.
No livro que brevemente penso publicar debruço-me em pormenor sobre
alguns erros fundamentais dos relatórios e cenários do SIAM,
amplamente divulgados em Portugal, e publicados
por uma editora de "largo espectro de audiência", a
Gradiva. Para além de toda a acumulação de "provas
científicas" de que o aquecimento global antrópico é causa de
uma infinidade de males que actualmente flagelama humanidade
(guerras, tempestades, terramotos, doenças, etc.) espera-se agora,
com alguma indiferença pessoal, entenda-se, pois sei que a estupidez
humana é infinita, que a "revelação
histórica" do Curiosoty em Marte, mantida em segredo pela NASA,
a divulgar provavelmente durante a reunião anual da União
Americana de Geofísica, a decorrer na Califórnia já no início
do próximo mês de Dezembro de 2012, não seja uma espécie de prova
derradeira: a de que houve vida em Marte, decerto "vida
inteligente", que se terá extinguido devido ao aquecimento
global causado nesse planeta terrestre. Tudo é possível num tempo
onde domina a força da ignorância de que falava Orwell.
Se tal vier a acontecer, recomendo a Ciência com maiúscula, neste
caso tratada por especialistas como a neerlandesa Ewine
van Dishoeck, que refere por exemplo: «Organic compounds are
ubiquitous in space: they are found in diffuse clouds, in the
envelopes of evolved stars, in dense star-forming regions, in
protoplanetary disks, in comets, on the surfaces of minor planets,
and in meteorites and interplanetary dust particles.». Ou seja:
existem moléculas contendo Carbono em todo o Universo, sem que isso
signifique necessariamente que exista, ou tenha existido alguma vez em algum ponto desse Universo,
vida tal como a conhecemos. A tentação é grande, mas espero
(sempre esperei, não obstante infrutiferamente) que a verdade humana
prevaleça já que a outra, com V maiúsculo, somente a Deus
pertence.
Finalmente - prosseguindo a nossa elencagem de ganhadores -
ganham os apostadores e especuladores financeiros, gente de casino
que tem mais um "produto financeiro" para negociar nos
chamados "mercados do carbono" e também, como já parece
irreversível, nos
futuros "mercados de serviços dos ecossistemas" criados em
nome da "protecção da biodiversidade" (ou seja,
quando os Estados nacionais colocaram legalmente grande parte dos
seus territórios sob um qualquer estatuto de protecção ambiental; quando as
verbas escasseiam para assegurar a manutenção e gestão de tão
extensas áreas naturais; e quando os conglomerados económicos e
financeiros, apostados no decrescimento económico, pois bem sabem
como os recursos naturais são importantes mas limitados, temem
ver os seus lucros reduzidos por falta de poder de compra das
pessoas: aí surge a oportunidade de prolongar por mais algum
tempo o "business as usual", convertendo os bens
ambientais em commodities negociáveis e em
breve facturáveis aos cidadãos (que ainda restarem), após
os respectivos governos nacionais terem cedido à "inevitabilidade"
de entregar aos cuidados das corporações as extensas (e muito
valiosas) parcelas dos seus territórios, actualmente correspondentes
às áreas e zonas protegidas (e.g. parques naturais, zonas
especiais de protecção, sítios da Rede Natura). É o chamado
capitalismo
natural, defendido por teóricos como Herman
Daly e Robert
Costanza, expoentes da revigorada economia
ecológica. Lamento que muitos
biólogos e cientistas afins não percebam esta ameaça, surgida
a pretexto da razoável ideia da necessidade de promover uma adequada "valorização da
biodiversidade". Não me restam dúvidas: as piores armadilhas
são aquelas que nós próprios, por ignorância, tecemos. Mas
finalizando: todos ganham com a luta contra o "aquecimento
global" de origem antrópica, à excepção do Estado no seu
sentido original ou seja, à excepção do... Zé que tudo vai ter de
pagar, de alguma forma...
Além disso, mas não menos importante, passa a
estar inteiramente sobre os ombros do "Zé" a culpa de
todas as calamidades "naturais" presentes e futuras:
cheias, terramotos, maremotos, pragas, incêndios, doenças,
epidemias e pandemias - como
aliás já escrevi há mais de dois anos num texto publicado no
Jornal das Caldas (a imprensa nacional há muito tempo que não
publica textos inconvenientes para as corporações que a
sustentam). Nada mais conveniente numa
altura em que os governos nacionais se vêem confrontados com a
"inevitabilidade": dos cortes na despesa pública com a
saúde, a educação e a segurança dos cidadãos, entre outras.
Inclusive as corporações seguradoras devem ganhar com tudo isto,
pois a verdade é que estão sempre fadadas a ganhar... e a pagar o
mínimo quando o azar acontece (talvez passem a colocar nos contratos
uma cláusula estabelecendo que, em dias de "alerta laranja",
ou "violeta", ou de qualquer outra cor denotando as
inclemências do estado do tempo, não se responsabilizam pelos danos
que houver...).
É isto que é perigosamente suspeito. E é
a isto que se juntam as muitas dúvidas científicas sobre a teoria
dominante do aquecimento global de origem antrópica, por força
das emissões de CO2 e outros GEE. Há vozes
de cientistas a favor e contra essa teoria que há anos esgrimem
entre si os respectivos argumentos. Não entrarei nesse debate, pois
em relação à sustentabilidade preocupam-me actualmente outras
questões que acho bem mais importantes, e a minha idade já
não permite que perca tempo com discussões que se prefiguram
infindáveis e, portanto, inúteis. Se, como muitos reconhecem, o
assunto do aquecimento global causado pelos humanos é político,
então que político seja e que cada um pense como quiser.
Parafraseando Keynes, a única certeza política que tenho é a de
que, a prazo, estaremos todos mortos.
Optando pois por um agnosticismo saudável nesta
questão, deixo-vos aqui alguns vídeos, dois deles legendados em
português, que sintetizam as posições pró e contra a teoria de
que o aquecimento global recente está a ser acelerado pela
actividade humana (teoria que no Brasil, país muito mais atento a
estas coisas do que Portugal, recebeu o nome de aquecimentismo).
Como o mais frequente é as teorias científicas estarem de alguma
forma erradas, isso significa que o melhor a fazer é continuar,
afincada e honestamente, a estudar o assunto. Começando, claro está,
pelas bases: a Física e a Química da Atmosfera, coisas nada fáceis
ou simples, como aliás sublinho nas minhas aulas de Climatologia.
Bom visionamento, e bom estudo!
Vídeos pró-aquecimentistas
Uma Verdade Inconveniente - Legendado PT from MDDVTM TV7 on Vimeo.
Vídeos anti-aquecimentistas
Aquecimentismo em Portugal
Em Portugal a discussão aquecimentista tem sido pouco divulgada, como é regra no país em relação às grandes discussões e debates que afectam o mundo contemporâneo. Uma excepção assinalável foi a RTP2 que, em mais do que um dos seus programas, trouxe o assunto a debate. Por exemplo no programa Sociedade Civil, em 2010, confrontaram-se as posições pró-aquecimentistas dos Professores Francisco Ferreira (da FTC/Universidade Nova de Lisboa) e Filipe Duarte Santos (da FC/Universidade de Lisboa) com as posições muito críticas do aquecimentismo defendidas pelo Professor Joaquim Delgado Domingos (do IST/ Universidade Técnica de Lisboa) e pelo Engº Rui Gonçalo Moura (falecido pouco tempo depois do programa). Vejam, estudem, pesquisem e depois formem a vossa opinião. Eu há muito que formei a minha.